quarta-feira, 25 de março de 2009
ÍCARO
Meu caro amigo Ícaro,
Agora eu tenho asas
Bastava fechar os olhos
E logo eu não estava mais no chão
E logo eu estaria entre a morte e ressurreição
No Paraíso.
Mas se eu tivesse asas
Asas daria a saudade
Daria adeus a esta cidade
E iria a busca de ti.
Se eu tivesse asas
As daria à imaginação
Asas ao pensamento
Wings to fell so free.
Se eu tivesse asas
Seria passarinho
Construiria-te um ninho
E juntos iríamos morar.
Se eu tivesse asas
Como as tenho agora
Seria um belo pássaro
Preso em tua gaiola.
Se eu tivesse asas
Asas eu te daria
Para muito mais que só um dia
Juntos íamos voar.
Mas se eu tivesse asas
Asas tu não terias
Pois só em meu coração com asas
Tu sobrevoarias.
Se eu tivesse asas
As asas da redenção
Queimaria querosene
Eu seria um avião.
Mas se eu tivesse asas
E fossem asas da loucura
Não haveria mais remédio
E nem doença sem cura.
Se eu tivesse asas
Levaria-te a uma festa no céu
Para conheceres meus amigos anjos
Lúcifer e Gabriel.
Mas se eu tivesse asas
Asas já não teria
Só em tua presença estaria
Para juntos caminhar.
Se eu tivesse asas
Dançaríamos com as estrelas
Daríamos um beijo na lua
Pra fazer um eclipse solar.
Mas se eu tivesse asas
Te faria um colar de estrelas
Com um pingente de lua minguante
E um diadema de sol.
Pois se eu tivesse asas
Saía voando pela janela
Eu seria como sou
Síndrome de Gabriela.
Mas se eu tivesse asas
Asa Branca, Asa Morena
Não haveria solidão
Nem o tédio que te envenena.
Meu caro amigo Ícaro
Obrigado por me ensinar
Já estou perto do que mais amo
Já não preciso voar.
À Fernanda Brabo
o mais fascinante ser que alguém pode conhecer.
segunda-feira, 23 de março de 2009
SER-HUMANO
Tudo permanecerá, mas tudo permanecerá
Quem me dá a consciência não pode me roubar
Não me iludo mais, não me iludo mais
Não me entrego sem lutar.
Meus caminhos eu mesmo escolhi
Aprendi tudo com meus ídolos
Aprendi tudo com meus discos
Aprendi tudo com meus livros.
Durante muito tempo, mas durante muito tempo mesmo
Ouvi tudo o que dissestes calado
Hoje eu quero a liberdade
Chega de grito enjaulado.
Mesmo com dor eu persisto
Eu canto assim por que eu sou brasileiro
Muito eu ouvi teus conceitos de engano
Eu canto assim por que eu sou ser - humano.
Crescer, ser, ser - humano
Escoa escondido sob um pano
Meu deus
Por que me fizestes humano?
domingo, 22 de março de 2009
CORAÇÃO-MONSTRO
Ontem vi o que realmente sou,
Olhei-me no espelho e me deparei com um monstro,
Mas não um monstro de filmes de horror,
Era monstro por que sente dor,
Um monstro devorador das eras,
Fostes homens, fostes feras,
Tentando esconder as chagas do tempo,
Tentando curar os ferimentos,
Um monstro que lutou consigo mesmo durante anos infindáveis,
Feridas incuráveis,
Inúmeras feridas que o fazem monstro,
Monstro que sabe,
Que vai morrer só,
Que é só por ser monstro,
Que é só por ser máquina,
Que é só por ser homem,
Mais homem que monstro,
Hoje quer se afogar,
No mais alto-mar da solidão,
Vai se jogar da ponte do tempo,
Da ponte que leva até o portão,
Vai se enforcar,
Com a corda que sufoca seu coração,
Esquecido, criminoso, impune, vais morrer.
Teu coração bate monstro?
Teu coração monstro.
Tens coração monstro?
Tens coração?
sexta-feira, 20 de março de 2009
ÓBITO (IML BLUES)
De repente ouvi um estalo
E então senti uma dor
Em seguida larguei tua mão
Senti gosto de ferrugem
E um líquido quente escorrendo do meu peito
Seguido de uma tontura
Depois estava no chão
Ainda senti teus braços
E ouvi teu choro
A vista querendo escurecer
Ouvi sirenes e vi vários rostos
Fui carregado não sei pra onde
E então apaguei
Em seguida fortes luzes
Eu estava num corredor
Fecharam a porta
E não senti mais nada
Adormeci
Acordei de novo
Vi seu rosto mais uma vez
Ouvi um bip
E um desespero
Uma única luz
Um lindo anjo
Que veio até mim e disse:
Mau caro amigo tu se fudeu
Sem crença, crente ateu
Homem de pouca fé
Não vai estar vivo pra contar como foi.
DISK-SEXO
Destrói,
Eu sei que vou destruir você,
Vou te comer por dentro,
Até não restar mais nada de você.
Do desembaraçar dos teus cabelos
Até o desmentir de tuas verdades,
Falar segredos só na tua boca,
Dormentes lendo Marquês de Sade
Agora é tarde, agora é tarde, agora é tarde...
Falando baixo e sonhando alto,
Língua lambendo a carne do seu cérebro,
Antes mal do que insensível,
Se calando e lavando com saliva,
Sentindo viva, sentindo viva, sentindo viva...
Eu sempre quis beijar teus lábios,
Teus lábios que não escondem dentes,
E te livrar de tuas ânsias,
No dissertar de tuas falas,
Mas não te calas, mas não te calas, mas não te calas...
REVÓLVER
Estive na cena do assassinato,
Passei diversas horas ensaiando o ato,
Presenciei de perto a beleza da loucura,
Na mão direita o veneno e na outra a cura.
Estive por aqui só de passagem
E achei o corpo no meio da paisagem
E parte do meu pensamento levado pela maré,
Morto nos braços da mesma mulher.
Quantas tempestades ainda iremos encontrar?
Quantos medos ainda iremos enfrentar?
Quantos dedos ainda iremos perder?
Quantos corpos ainda iremos envolver?
Revólver,
Algum dia ela me devolve,
Devolve as balas do meu revólver,
Com quem tu te envolves?
Com quem pretende ser envolver?
Revólver,
Algum dia ela me devolve,
Lindo veludo azul me devolve,
Mate-me antes do que eu possa ver,
Roube-me antes do anoitecer.
quinta-feira, 19 de março de 2009
BLUES E POESIA
Antes que teu sol me anoiteça
Eu deito no tapete
Com um travesseiro embaixo da cabeça
Teus olhos cinza
Cinzas de um cigarro no cinzeiro
O meu dia acaba o dia inteiro
Acaba o dia inteiro.
Se te conhecesse um pouco mais
Não te conheceria
Feito blues e poesia
Se te conhecesse um pouco mais
Não te compraria
Na displicência dos Blues
No ciúme desta poesia.
E me transformo em fumaça
Em uma metralhadora
Uso Stradivarius como arma
Sou um Tiranossauro Rex
E vou te devorar por dentro
Minha menina.
Disfarça no teu colo, teu ventre e teu útero furioso
Prazer, Anarkia
Rimo Blues e poesia.
HOMEM DE FERRO
Meu peito era blindado
Blindado como um tanque de guerra
Meu coração impenetrável
Indomável como fera
Sentiu hoje um calibre diferente
A doce flecha da vida
Algo que até então era novo pra mim
Eu nem sabia que tinha coração
Desconhecia esta estranha sensação
Eu não sabia que eu podia sangrar
E nem ter lágrimas pra chorar
Desconhecia o medo
Eu não sabia que eu era assim
Desconhecia a criatura que havia em mim.
Tudo em mim era eletrônico
Chegava até a ser irônico
Eu era um lixo tecnológico
Um mal periódico
E me entreguei a você
Me entreguei ao clichê
E me tornei démodé.
Eu era a mais perfeita maquina
O melhor em conceitos técnicos
Acreditava estar pronto pra tudo
Não sonhava nem sentia
Apenas obedecia
Era um marco na tecnologia.
Eu sempre fui homem de ferro
Desconhecia o frio do inverno
Descia sempre ao inferno
Mas despi do meu falso terno
E mergulhei em tua piscina.
E tudo foi belo em beleza bélica
E tudo foi um sonho de menina.
terça-feira, 17 de março de 2009
CHARLES DARWIN
Um milhão de borboletas deixam teu inferno frio
Queime tuas idéias porque existir é vazio
Quando acordar de manhã, sem calcinha ou sutiã
Sem saber onde está, sexo pra procriar.
Eu moro na cidade, mas prefiro o esgoto
Eu fico lá no ralo só provando o teu gosto
Quando você toma banho despeja amor pelo ralo
Corteja-me com teu sexo depois de ter tido orgasmos múltiplos.
Olha, eu pareço homem, mas sou mesmo um rato
Eu que sumo com o corpo depois do assassinato
Mas nada disso importa o que interessa saber
É que eu faço amor contigo toda noite sem tu perceber.
Eu moro num hotel, eu moro num envelope de papel
Passeio pelo corredor catando calcinhas, atentando ao pudor
Eu sou o anjo vingador, eu sou teu criador
Eu sou Charles Bukowski esperando pra ter orgasmos múltiplos.
Orgasmos múltiplos
Múltiplos de três
Orgasmos múltiplos
Tudo outra vez
Quando eu saia de casa em frente a porta
Eu sentia quase sempre que esquecia algo
Eu sabia que não eram as chaves.
Quando você me dizia, “baby, vamos ao shopping”
Eu sentia algo que você não sentia
Eu sabia que minhas roupas não estavam velhas.
Quando eu broxei e você riu
Eu sentia que não era algo tão ruim
Eu sabia que o problema não estava em mim.
Quando você me abraçava
Eu sentia que alguma coisa você queria de mim
Eu sabia que não podia te dar mais nada, que você já havia me levado tudo.
Quando você disse, “amor vamos esquentar nossa relação”
Eu sentia que já havia feito de tudo
E sabia que não podia fazer mais nada.
Quando você disse que não me amava mais
Eu já sabia que era tarde demais
Eu sentia que não podia voltar atrás.
Quando você saiu batendo a porta
Eu sabia que podia por outra em seu lugar
Mas eu sentia que ela seria exatamente igual a você.
Quando você me viu chorar
Eu sabia que um erro grave eu cometia
Mas eu sentia que conter eu não podia.
Um dia eu vou ganhar muitos milhões
Com as canções,
Que um dia eu fiz pra ti.
O MARAVILHOSO DOM DA PREMONIÇÃO
Eu sei que vou morrer
Cedo ou tarde eu vou morrer
Se você me envenenar
Se você puxar uma arma
E me der um tiro na cabeça
Eu com certeza vou morrer.
Se eu pegar uma doença contagiosa
Talvez eu possa acelerar o processo
Talvez um assassino venha me visitar
Mas se eu ficar milionário
Se eu acertar na loteria
Muitos vão querer me matar.
Se uma bala perdida me encontrar
Vão encontrar vestígios de mim
Em cada esquina que eu passar.
Se eu criar teses e de mim alguém discordar
Seitas ortodoxas vão me caçar
Minha cabeça será um troféu
Vai o dedo fica o anel.
Se um crime eu cometer
Vivo ou morto vão me querer
Eu podia estar matando
Eu podia estar roubando
Mas estou só esperando a morte aparecer
Se eu criar uma ideologia
Que vai contra os princípios morais
Se eu não agradar
Vão me torturar e me matar.
Eu posso exagerar na dose
Eu posso ter uma overdose
Eu posso brincar com fogo
Posso trapacear no jogo
Eu posso correr muito
Mas a morte vai me encontrar.
Posso morrer de tanto amar
Posso morrer de tanto esperar a morte aparecer
Assim eu não vou estar vivo para ver o próximo “Bug do Milênio”
domingo, 15 de março de 2009
TARÂNTULA
Casas de alvenaria
Sangue seco na pia
Páginas policiais
Faixa de “não ultrapasse”
Mesa revirada
Gavetas vasculhadas
Cortinas arrancadas
Ratos no porão
Formigas em peregrinação
Faca ensangüentada
Taças quebradas
Restos de comida
Roupas pelo chão
Garrafas de bebida
Estilhaços de vidro
Escadaria
Cinqüenta pais-nosso
Quinhentas ave-maria
Ela vai rezar
Pra você não voltar
Silêncio irritante
Vento cortante
Toca o telefone
Quebra o silêncio
Respira fundo
Embaça a vidraça
Quando a lua iluminar as frestas
Ela vai se mover
Vai sair do seu lugar
Tarântula.
sábado, 14 de março de 2009
POEMA PRONOGRÁFICO Nº 1
Deite-me a luz clara do teu colo
Que me sentirei muito confortado,
Até sentir plena confiança em teus zelos,
Criticarei os deuses presentes,
Mesmo sem conhecê-los.
As mãos suam e se movimentam,
Como se fossem falar algo,
Mãos suam frias,
Meus e teus dedos espremidos,
Movimentam-se aleatórios e loucos,
Mas se harmonizam em teus gemidos.
Teu corpo pequeno e fresco,
Como o aroma de um milhão de rosas,
Teu corpo sente o meu peso
E sonha acordado numa dança indígena.
Tua boca quente, úmida, faminta e voraz,
Abraça num abraço explosivo o meu órgão,
Liberando um demônio a muito preso.
LUNÁTICO
Lunático
Lunático,
Tens veneno engarrafado,
Tens um medo exagerado,
Tens o sabor da explosão de um milhão de rosas,
Fostes versos,
Fostes prosas,
Fostes mímico,
De um olhar clínico,
Mudastes pro Norte,
Fostes a própria morte,
Fria e acalentadora,
Linda e aterradora,
Horripilante e sedutora,
Protozoário,
Usuário,
Solitário,
Colocado num viveiro,
Mantido em cativeiro,
Chuvas da tarde,
Atrás das grades,
Atrás das infames colinas,
Fostes homem num sonho de menina,
Inflamável e hostis,
De curto pavio,
Fostes coringa,
A agulha e seringa,
Às de espada,
Um pra cada,
Não aprendeu a reconhecer um não como resposta,
A fazer o que não gosta,
Digo que sou poeta,
E não me dou por satisfeito,
Só me interessa os com defeito,
Pois não tenho sentimento,
Apenas finjo,
Interrompendo tratamento,
Fostes minha companhia,
Em minhas horas de agonias,
Na chegada do messias,
Quem diria,
Eu não sabia,
Que eras louco poesia,
Quando eu mais sofria,
Por todos estes dias,
Estático me deixarias,
E de lunático me chamarias.
LOUCURA
Me dizes que estou louco,
Mas sou louco e mais um pouco,
Sou louco de nascença,
Sou louco de doença.
Com a cara e a coragem,
Que segue viagem,
Pra não mais voltar.
Sou louco e sou filósofo
Pois de filósofo e de louco
Todo mundo tem um pouco.
Sou louco varrido,
Louco cuspido,
Louco comestível,
Mastigável.
Sou louco por mim,
Sou louco por ti,
Pela tua loucura,
Sou louco sem cura.
Sou louco,
Com razão em ser louco,
Sem razão de não ser.
Sou louco à noite,
Na ressaca da manhã,
Sou louco profecia,
Louco fé pagã.
Louco poesia,
Sou louco à luz da lua,
Em plena luz do dia,
Louco solitário,
Louco companhia.
Se me perguntas “o que é loucura?”
Talvez eu responderia,
A loucura é o caos, transformada em poesia.
sexta-feira, 13 de março de 2009
NOITE
Numa noite de muitas cores,
Sentindo tristeza de outros amores,
Instantâneos, mecânicos de tecnologia japonesa.
O sangue se torna infravermelho,
As flores ultravioleta,
A escuridão da noite cega
E te encontra na sarjeta.
Apaga as luzes dos lares,
Manda tudo pelos ares,
Violenta o som dos bares
E percorre a fiação que leva sangue até a cabeça.
O amor é como as lâmpadas,
Que iluminam mais à noite,
Flores que florescem fluorescentes,
Dando a vida a mentes dormentes.
Há química no teu beijo,
Há ilusão no que vejo,
Sexo e vontade a noite esconde,
Fujo, sem saber pra onde.
Dos cegos,
Olhos cegos que vagueiam,
Percorrendo a rua, quase nua,
Como se desenhasse na calçada as curvas do teu corpo.
A luz do poste ilumina o que devia esconder,
O que meus olhos bêbados não podem ver,
O que minha mente insana e pervertida,
Está indisposta a esquecer.
Ficam cada vez mais vezes,
Com o passar dos anos,
Com o passar dos meses.
A noite vai te corromper,
Vai te levar e te trazer,
Depois vai largar na calçada e te esquecer.
No que difere homens de poetas,
Nos conhecemos muito pouco.
ESQUIZOFRENIA
I
Psicografia
Minha verdade era nua, porém vazia
E era fruto da minha agonia,
A febre queimava, o fogo ardia,
Tudo o meu sistema imunológico repelia,
Recogitava tudo o que eu comia,
A medicina e a homeopatia,
Como estava escrito na profecia,
Nada se cria tudo se copia.
O quarto vazio a sala tá fria,
Tudo o que eu tinha era minha própria companhia,
O que meu olhar refletia,
Era minha própria revolta, minha rebeldia,
Era Joy Division para minha melancolia,
Então Nietzsche acreditaria,
Na existência de um deus que não dormia
Mas esse deus era um infame em seu império de tirania.
Pouca tecnologia,
Pra viver em harmonia,
Recarregar minha bateria,
Com uma leve pornografia,
Assim o marginal nascia,
E já queria anarquia,
Queria ser poesia,
Andando de noite e dormindo de dia.
II
Hemorragia,
Espalha e vira epidemia,
O brilho do fogo me atraía,
Com meus restos mortais fizeram bruxaria,
E nos frios braços da morte eu me aquecia,
Em demência meu coração resplandecia,
Perdi a identidade, te imploro uma segunda via,
Assim esse mal me pouparia.
Atestados provavam a sua autoria,
Pelas mentiras que eu contaria,
E as palavras que eu pregaria,
Minha mente então seria,
Um lindo automóvel sem guia,
O que eu receberia,
Era as lagrimas que me devolveria,
O frio dos teus olhos me mataria.
Para o inferno o que mais sabia
E toda a arte da alquimia,
Eu gritava, mas não me ouvia,
Minha audição a mim não pertencia,
Quanto mais se amplia,
Mais se distorcia,
Absorvo o tédio que me eliminaria,
Tudo o que é mal eu transformo em poesia.
III
Cleptomania,
De me roubar o néctar noite e dia,
Como dois anjos em uma orgia,
Na luxúria memorável de tua companhia,
Até mais eu pagaria,
Insaciável eu te consumia,
Pois só assim eu acabaria,
Com essa sua pureza doentia.
Sou eu quem te sacia,
Eu te como e tu fobia,
Sem música dançaria,
E de quatro ficaria,
Por vezes gritaria,
Com amor te pagaria,
E com desprezo me retribuiria,
Assim nada nos machucaria.
Eu cético não percebia,
Que só o deus entre tuas pernas me atraía,
Só teu veneno me embriagaria,
Um tapa pra ver como eu reagiria,
Nesse fogo santo eu queimaria,
Incinerando meu livro de poesia,
Na loucura eu mergulharia,
E sozinho novamente eu morreria.
quinta-feira, 12 de março de 2009
FERRUGEM
Ferrugem
Flores nascem no asfalto,
Ferrugem nas minhas fitas TDK,
Estrelas desaguando na sarjeta,
Procurando a luz do poste pra iluminar.
Dançando na chuva ácida,
Descolorindo containeres,
Pra mais um tango sangrento,
Pra mais um beijo violento.
De joelhos no cimento,
E lâminas de diamante,
Com um olhar mais cortante,
É a ferrugem das balsas no cais.
Propagandas e alucinógenos baratos,
Fungos e estereótipos,
Parasitas da própria vida,
Com os olhos fechados e abertas feridas.
Dançando com o lagarto no fogo,
Fertilizando as sementes,
As sementes da fundação,
A fundação para uma vida mais amena.
Eu vou te matar,
Eu vou te desligar,
Você era telepática,
Você era católica.
Depois de andar daqui até a Cidade Velha pensando no meu fim,
Encontro somente bruxas e prostitutas
Querendo um pouco mais de mim.
FERRUGEM
Ferrugem
Flores nascem no asfalto,
Ferrugem nas minhas fitas TDK,
Estrelas desaguando na sarjeta,
Procurando a luz do poste pra iluminar.
Dançando na chuva ácida,
Descolorindo containeres,
Pra mais um tango sangrento,
Pra mais um beijo violento.
De joelhos no cimento,
E lâminas de diamante,
Com um olhar mais cortante,
É a ferrugem das balsas no cais.
Propagandas e alucinógenos baratos,
Fungos e estereótipos,
Parasitas da própria vida,
Com os olhos fechados e abertas feridas.
Dançando com o lagarto no fogo,
Fertilizando as sementes,
As sementes da fundação,
A fundação para uma vida mais amena.
Eu vou te matar,
Eu vou te desligar,
Você era telepática,
Você era católica.
Depois de andar daqui até a Cidade Velha pensando no meu fim,
Encontro somente bruxas e prostitutas
Querendo um pouco mais de mim.
quarta-feira, 11 de março de 2009
A DISTÂNCIA ENTRE CHICO BUARQUE A SONIC YOUTH
Eu estava distraído lendo notas nos jornais,
Mais atenção no programa e menos nos comerciais,
Palavras cruzadas, encruzilhadas, youth never dies.
Não sei o que o amanhã espera de mim,
Quantos cigarros faltam para o meu fim,
Pra ser as águas de março, de Jobim.
Mesmo que o tempo passe a bossa ainda é nova,
Já quero outra colher pra cavar a minha cova,
E mais uma mulher pra me tirar dos nove, a prova.
Eu queria que as palavras da tua boca fossem jazz,
Estamos em minha cama sei que já são mais de dez,
Mas o existir pra você é sentir o mundo, nos pés.
Eu não caibo em nada parecido com um terno,
Você vem e diz pra mim, me aqueça nesse inverno,
Interesses baby, quero que vá tudo pro inferno.
Eu chupava tua boceta e recitava poesia,
Vivo ou morto eu era uma companhia,
Cansei de não ouvir mais os discos que eu ouvia.
Somos todos feitos de momentos,
De querer tomar a frente sem nem ter argumento,
Me decepcionar com futuro é meu melhor passatempo.
Pra onde vamos quando o bar fechar,
Devemos sair e procurar outro bar,
Ou algo que nos tire logo desse lugar.
Baby, eu não sou otário,
Sei muito bem do meu horário,
Eu não sou teu cristo não sou teu vigário.
Mas baby, me desculpe,
Se meu céu não é azul,
É que entendo muito bem a distância,
De Chico Buarque a Sonic Youth.
segunda-feira, 9 de março de 2009
FALTA
Ela fala através de uma enciclopédia
E será a única a presenciar a mias linda tragédia
A turbulência é o fim da inocência
É o medo, é a incoerência
É o acaso na ciência.
Tudo o que me deves é respeito
Erramos mil vezes
Pra fazer uma direito
Sou humano, não sou perfeito
Eu sou como você
Pra que haja arrependimento
Alguém tem que fazer
Se não fosse eu seria você.
Estamos fora da órbita
Ou a deriva num bar
Procurando alguém bem rápido
Alguém que não fale nada
Mas saiba o passado apagar
Alguém pior que eu
Mais sujo, mais vulgar
Mas que não diga nada
Saiba apenas escutar.
A mente já foi
Falta o corpo reclamar
Falta o copo quebrar
Falta o veneno fazer efeito
Falta o pesadelo passar.
O VERDADEIRO CAVALO SELVAGEM
És o cavalo selvagem
És livre dentro de meu ser
És selvagem por ser eterno
E eterno nunca vais morrer.
És livre como te vejo
Eu digo, repito e afirmo
És livre fera indomável
És livre desde menino.
Somente estás preso
A tua própria liberdade
Não conheces o mau do mundo
Não conheces a crueldade.
És livre e invencível
És sempre indestrutível
Livre como poesia
Ninguém pode te conter
Poesia presa é noite sem brilho de lua
Sem Sol para brilhar de dia
És privilegiado
Pois têm o sol todas as manhãs
Como teu servo, teu criado
A lamber de tua crina
As gotas de orvalho.
Acredito que tenha asas
Sei que podes voar
Sempre será alado
Sempre será cantado
Solana Estrela do mar
Sabe amar as mulheres
Sabe ser delas escravo
Sabe fazê-las amar
Sabe fazê-las sentir
Sabe fazê-las sorrir
Sabe fazê-las chorar.
Empresta-me tuas asas
Mesmo que na imaginação
Pois eu também quero voar
Daqui para o Japão.
Homenagem a Eliakin Rufino, o verdadeiro cavalo selvagem.
domingo, 8 de março de 2009
VOCÊ
Você que tantas vezes tentou me mudar
Que tantas vezes mudou os móveis de lugar
Que tantas vezes insistiu em repetir
As coisas das quais eu não estava nem aí
Você que tantas vezes foi minha guardiã
E que tantas vezes foi protetora-irmã
A garota que um dia eu fiz mulher
E que hoje é o que é
Que se irritava com meu jeito brincalhão
Que dizia que eu vivia em outra dimensão
Me criticava porque eu era sonhador
Acreditando que se podia viver de amor
Nunca tive pai nem mãe
Nunca tive chão nem céu
Nunca fui o cara que faria você mudar
sexta-feira, 6 de março de 2009
MEIO DO NADA
Aço inoxidável
Glóbulos sanguíneos
Morte prematura
Lagrimas de crocodilo
Multifacetado
Antidepressivo
Autodestrutivo
Louco e compulsivo
O ser ou não ser
Existencialista
Retrato falado
Sem nenhuma pista
PERDIDO NO MEIO DO NADA
quinta-feira, 5 de março de 2009
INDECISA
Te fiz um samba meu amor
Pra te falar da minha dor
O que te faz agir assim?
Porque não traz teu peito junto a mim?
Me fiz num rock assim banal
Pois me critico isso é normal
Pois necessito do teu mal
Por que meu mundo é teu quintal
Te fiz a Bossa Nova em flor
Pra te provar que não guardo rancor
Ó mas só sei perceber
Que és o pão do meu viver
Me fiz um Jazz que não se mede
Me faz um mal e não percebe
Não me solte água da minha sede
Não me deixe falando com a parede
Mas me vens desinibida
E me chega distraída
Entrando e saindo da minha vida
Por que és tão indecisa?
Não vê que só me causa dor
Pois necessito do teu amor
BLUES DAS MIL FACAS
Se você queria me ver sofrer
Se você queria me ver enlouquecer
Se queria me ver chorar
Você conseguiu
Se queria me ver na fossa
A razão que não é mais nossa
Eu como o pão que eu mesmo amassei
Agora dança sobre a lembrança
Do que um dia fomos nós
O sentimento que nos trouxe
Nunca nos deixará só
Não estaremos vivos pra contar
Pros nossos filhos a historia
De nós só restará à memória
Mas eu vivo
Eu vivo
Muito em mim mudou
Os que me conhecem
Conhecem-me tão pouco
E dizem que sou louco
Mas sou mais que um simples louco
Há mil armas apontando a minha cabeça
Minha alma implora para que eu esqueça
Há mil facas apontando o meu pescoço
Há mil dedos apontando pro meu rosto
Na minha cara,
A cara que não é minha
Que nunca foi minha
Minha TV me assiste morrer
Na triste espera de você.
quarta-feira, 4 de março de 2009
LAISA (RADIOATIVO BLUES)
Durante toda a minha vida
Eu procurei em quem acreditar
Mas quem diria que tão perto
Eu poderia encontrar
Quando eu ainda estava naquele embrião
Sentia medo de enfrentar a solidão
Por isso não nasci até então
Princesa da torre sem um grande dragão
Muitos tentaram nos ferir
Mas ninguém pode nos machucar
E quem diria que tão perto
Eu poderia encontrar
Nossos filhos mais adiante verão
Que somente nós tivemos esta visão
Me coloque em sua revolução
E eu garanto que nunca direi não
Você me faria correr alguns riscos
Traga drogas, traga nossos amigos
Estamos aqui há algumas horas
Eu entendo se você for embora
Se você foi exposta a radiação
É a razão de tanta preocupação
Coloque parte em toda população
Quando todas as portas se abrirão.
“Onde estão as coisas más se penso em você?
“O que fez você para ser bonita?”
“O acaso te construiu ou foram gerações de criaturas lindas?”
Jorge Mautner
JAZZ NOTURNO
Jazz noturno
Jazz noturno,
A noite escura,
A luz da rua penetra na vidraça,
O frio da noite a embaça,
Desembaraça penetrante o olhar maligno da janela,
A loucura descansa abandonada numa cela,
Cena típica de um romance Noir,
Nada que um abajur não possa iluminar,
Polaroid amarelada num porta-retrato,
Um vestido branco à meia-luz do quarto,
Uma alma vendida,
Atirada, desinibida,
Com uma taça de vinho na mão,
Destilando o aroma com a mais pura intenção,
De sentir dentro do peito,
A falta de um coração,
Um jazz noturno como a contaminar,
O aroma doce de podre no ar,
Eu te pergunto:
- O que será de nós?
Se manchamos todos os lençóis.
Nada importa,
Tanto faz,
Se morremos jovens,
Desfrutando da luxúria e dos pecados mais,
Deixando sangue nas unhas,
Deixando esmalte na pele,
Não deixando histórias pra contar,
Não deixando pistas pra investigar,
Bêbados, ensandecidos, loucos, devorados, imundos,
Fazendo amor com a lâmina de barbear,
Deixando um jazz noturno,
A trilha sonora pro fim do mundo,
Convencidos de que as paredes é que causam a solidão,
Repousando teu corpo no chão,
Com a arma do crime na mão,
Sem assunto pra dialogar,
Sem argumento pra defender,
Eros e Ares,
Um jazz noturno me faz companhia nos bares.