terça-feira, 31 de agosto de 2010

CORAÇÃO-CADAFALSO

Coração-cadafalso


Deus mande o apocalipse por favor
Meu coração-cadafalso reza em silêncio
Para afastar os ecos das vozes passadas
Que em cada passo fora do caminho
Fora do compasso do meu caminhar
Eu possa levitar, se cair levantar.


Ela me faz levitar
Faz saltar pela boca
Meu coração Leviatã
Minha alma paira no ar
Como eu sou beija-flor
Eu sou helicóptero
Sou Dadá Maravilha
Cinco da tarde
A estrela que brilha
O beijo de baunilha
Na boca da filha
Que não leu a cartilha
E não chegou para o jantar.


Deus me atenda os desejos
Me faça milagres via Sedex
Ou então me dê grana
Me dê fama
Sem que eu precise ficar nu
Ou rasgar a bíblia por cada esquina.


Ela me faz andar
E é foda
Mas meu coração é andarilho
Tem o dedo no gatilho
E não é qualquer encruzilhada que me faz parar
Meu coração é uma armadilha
É uma ilha
Cantando a trilha
Junto à matilha
Alcalina pilha
Cão da quadrilha
Que segue os passos pra te encontrar.
Coração-cadafalso

Deus mande o apocalipse por favor
Meu coração-cadafalso reza em silêncio
Para afastar os ecos das vozes passadas
Que em cada passo fora do caminho
Fora do compasso do meu caminhar
Eu possa levitar, se cair levantar
Ela me faz levitar
Faz saltar pela boca
Meu coração Leviatã
Minha alma paira no ar
Como eu sou beija-flor
Eu sou helicóptero
Sou Dadá Maravilha
Cinco da tarde
A estrela que brilha
O beijo de baunilha
Na boca da filha
Que não leu a cartilha
E não chegou para o jantar.

Deus me atenda os desejos
Me faça milagres via Sedex
Ou então me dê grana
Me dê fama
Sem que eu precise ficar nu
Ou rasgar a bíblia por cada esquina
Ela me faz andar
E é foda
Mas meu coração é andarilho
Tem o dedo no gatilho
E não é qualquer encruzilhada que me faz parar
Meu coração é uma armadilha
É uma ilha
Cantando a trilha
Junto à matilha
Alcalina pilha
Que segue os passos pra te encontrar.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

BLUES DA CHUVA ÁCIDA

Blues da Chuva Ácida

Dois seres químicos no meio da noite
No meio da chuva e tragos de cigarros
Fecha o sinal, corpo fechado
Fecha os olhos, para a denúncia dos faróis dos carros.

Debaixo das marquises
Madames senhoras e meretrizes
Olham com desprezo
Desconhecem o amor
São meras atrizes
E são felizes
Dinheiro fácil
Sem suor e sem dor.

Me desculpem os doutores e seus assessores
Mas me sinto feliz amando contigo na chuva ou na cama
Cantando as canções ditas proibidas
Caminhando nossos sapatos em poças de lama.

Nas esquinas
Meninos e meninas
Não se arriscam
Têm pudor
E serão felizes
Somente quando a chuva passar
São todos passageiros
Com o desprezo no olhar.

Eu olho nos seus olhos suas pupilas dilatadas
Me comendo com o desejo que também habita em mim
E eu deixo sua boca desaforada invadir minha mente
E deixo sua chama eterna acender meu espírito no fim.

Expostos à radiação, a chuva é ácida e queima
É a nossa chuva, a água não apaga
E pela manhã ira corroer os monumentos ao sol
E toda noite as crianças com câncer terão que dormir no aerossol.

Dois seres mutantes exorcizando as roupas do corpo no meio da rua
A chuva é inútil, pois existe um fogo dos infernos em seus corações
Eu quero a revolução e digo não à censura, à ditadura
Eu quero a liberdade da tua prisão.

Se você me pedir eu levo minha cama pro meio da rua
E danço contigo o tango marginal até de manhã
E te deixo aquecida nas madrugadas
Eu sou seu bandido preferido e você é minha vilã.






terça-feira, 24 de agosto de 2010

EXODUS

Exodus


Traga as armas bélicas pra dentro da cabeça
E não esqueça
De por o cadeado no portão
De prender o cachorro na corrente
De lavar o seu espírito em gordura quente
Pois os lobos nunca dormem
Eles fazem viagens dentro da luz
Dentro da sanidade
E mordem num horror macio como quem morde um poste de concreto
Pois o futuro é incerto
Rapidamente eu vou esquecer como esqueci aquele tiro que me deixou paraplégico
O futuro é trágico
A juventude é mágica
Mas passa como o dia da caça
Eles me prometeram terra
E tive terra na cara a sete palmos do chão
Eu não quero mais só terra e pão
Eu quero água
Eu quero caminhar sobre as águas
Sem uniforme
Eu quero o disforme
E não o padrão
Nem o patrão nuclear
Eu quero roubar
Matar
E destruir
Em nome do teu amor
Do teu intelecto
Eu quero viver a minha vida apontando minhas armas para o infinito
Abraçado contigo admirando nada
E pintar um quadro com os pincéis do holocausto
Eu daqui você Dali
A paisagem morta do esquecimento
Os relâmpagos do Sinai
As provas do crime que cometemos no CSI
Na pré-concepção da moralidade encarnada
Na escolha da própria indecisão
Os venenos de Deus ou os remédios do Diabo?
Eis a questão
A cultura ou o pão?
Os afagos das pás-mecânicas
Para idealizar os desejos das nossas bocas
E de nossas mãos
Em busca do tempero que dá luz a vida
Mesmo que seja vulgar
Então vamos nos despir os prazeres mundanos
E abraçar a nudez dos nossos desejos homéricos
Como a mais incrível das batalhas
Behemoth versus Leviatã
Eu no divã
Onde ambos morrerão segundo Jó
Mas só ao ordenado de Deus será dada a glória da derrota
O pó
O pirlimpimpim da criação
Mas eu não sou Jó e tenho pressa
Nunca tive nada então nunca perdi nada
Tive apenas a promessa
E a direção
Então
Largue as malas
E me dê a mão
Para juntos flutuarmos no meu balão

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

SAMBA DO GRANDE AMOR

Que existem várias provas de que Chico  Buarque tem facilidade com as letras todo mundo sabe e é um fato comprovado, mas essa é uma das minhas favoritas, pois não mais que um samba pra cantar a falta de um grande amor.


Samba do Grande Amor


Tinha cá pra mim
Que agora sim
Eu vivia enfim
O grande amor
Mentira.


Me atirei assim
De trampolim
Fui até o fim um amador.


Passava um verão
A água e pão
Dava o meu quinhão
Pro grande amor
Mentira.


Eu botava a mão
No fogo então
Com meu coração de fiador.


Hoje eu tenho apenas
Uma pedra no meu peito
Exijo respeito
Não sou mais um sonhador
Chego a mudar de calçada
Quando aparece uma flor
E dou risada do grande amor
Mentira.


Fui muito fiel
Comprei anel
Botei no papel
O grande amor
Mentira.


Reservei hotel
Sarapatel
E lua de mel
Em Salvador.


Fui rezar na Sé
Pra São José
Que eu levava fé
No grande amor
Mentira.


Fiz promessa até
Pra Oxumaré
De subir a pé o Redentor.


Hoje eu tenho apenas
Uma pedra no meu peito
Exijo respeito
Não sou mais um sonhador
Chego a mudar de calçada
Quando aparece uma flor
E dou risada do grande amor
Mentira.


Samba do Grande Amor

terça-feira, 17 de agosto de 2010

A MÚSICA DA CÂMARA DE GÁS

A Música da Câmara de Gás

A gente canta quando não sabe o que dizer
A gente dança quando quer aparecer
Mas eu escrevo as mais belas canções
Canções estas que escrevo pensando em você
Os superhits que vão embalar os corações
Até o amanhecer.

É a musica que toca quando a saída de emergência emperra
É a canção que te embala na cadeira-elétrica
É o que te dar forças se a turbina do avião falhar
É o que motiva se o freio do carro faltar.

É a música do elevador caindo
É o nível da água subindo
Quando a faca escorrega no corte e acerta a mão
Quando pela vidraça dois olhos estranhos te observam na escuridão.

Sinto seu perfume no ar
E sinto saudades de tempos atrás
Acendo um cigarro pra desparecer
E então descubro ser cheiro de gás.

As harpas dos anjos, belas melodias
Os sinos de Belém já podem soar
Se ninguém me impedir no momento exato
Se eu não descobrir que no meu prato
Misturado ao meu jantar tem veneno pra rato.

É a música que te encoraja a pular
A apertar o gatilho
A canção que te faz acelerar
E sussurra nos ouvidos
Mande um beijo no poste pra mim
E para os pedestres distraídos.

A trilha sonora dos sexualmente perturbados
Daqueles que irão explodir depois de agüentar tudo calados
Do amor na sua forma mais bruta
Do gole de cicuta.

É o som que o relâmpago faz
Quando lambe a tua testa
É a música da câmara de gás
Indigesta, desonesta
Que toca em qualquer festa.

domingo, 8 de agosto de 2010

PERNAS

Pernas


Ah, aquelas pernas
Pernas que caminham
Mostra-me a direção
A saída da caverna
Pernas que dançam
E eu de quatro, de joelhos
Pé e mão
É a lanterna
Que me guia na escuridão
Não controlo meus desejos
Minha vontade me governa
Um par de pernas
Que hipnotizam
São músicas para os meus olhos
E alimento para as minhas mãos
Um banquete à minha devoção
E dentro de mim
Minha razão hiberna
As pernas se cruzam na minha frente
São colírios, meus olhos contentes
Elas cruzaram meus caminhos
Me deixaram desnorteado
Na contramão
Tua devoção
Minha doença eterna
Sensualmente sem cura
Ah, aquele par de pernas.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

TEXTO ANÔNIMO

Texto Anônimo

Minha mãe me dizia sempre
Que eu nunca daria para o que realmente presta
Mas eu tinha os maxilares fortes
E devorava as tardes afundado num livro
Um livro roubado
De onde? Não lembro!
Se fui pego? Nunca!
Eu era esperto
Aprendi na rua a viver
Aprendi a não precisar da rua pra viver
Mas se dormi nela? Sim, por tantas as vezes que me mandavam embora
Até alguém se arrepender ou se compadecer da minha solidão
Dito eu garoto forte e esperto só perdi pra mim mesmo
E pra uma garota que vai amamentar um filho que não é meu
Se lembro dela? Como se fosse ontem
Como se ela nunca tivesse ido embora
O que é pior!?
Pois se eu a mandasse embora
Era como se a mim mesmo fosse assinado uma demissão
Como se a mim mesmo fosse ensaiada a despedida
Pode parecer estranho pra quem não entende
Mas pra mim é completamente normal
Ou nunca mandaste embora quem o ama?
Aposto este Zippo zerado
E ponho minha mão no fogo por isso
Ô maldita esperança!
Esse é meu mal
Dar primeiro a cara a tapa
Pra depois duvidar
Mas não vai ser sempre assim não
Ou de que me vale ter assistido mais de cinqüenta vezes o Laranja Mecânica
Todo mundo tem um Alex dentro de si
Pode olhar que tem
Todo mundo explode um dia
Seja de tristeza ou alegria
De cólera ou sei lá o quê
E quando temos que obedecer
É sempre assim, sempre
Duvida?
Muleque tu num sabe o que eu já vi por aí?
Já vi muito
Já ouvi muito ditado popular querendo me dar exemplo
Eu já não sou um bom exemplo?
Ou como dizia o Millôr:
“Eu posso até não ser um bom exemplo, mas sou um bom aviso”
Porra se te pedi pra ficar é porque eu posso te pedir
É porque quero que você fique
É porque acho que devia ficar
Pro jantar
E porque é tudo tão difícil?
Se minha mãe me diz que já não vou dar pro que presta
Deixa de ser besta, deixa de ser besta
Deixa de deixar os outros fazerem o que querem contigo rapaz
Te esperta
Olha o mundo aí
Ninguém tá só não
Todo mundo se fode no final
E no final vai todo mundo junto
Vai tudo pro mesmo buraco
Mesmo que a vida seja curta
E não é?
Senão de que me vale viver?
Se eu achar que vou viver a vida toda
Se eu não pensar que o mundo é apenas um quintal
Ao invés de ficar aqui penteando cabelo de manga
Eu vou pro mundo
Eu sou do mundo
Desde quando eu fugi da escola
E da igreja
Mas foi porque eu não conseguia conter a minha gargalhada
Justo na hora da aula
Justo na hora da missa
Aqui no mundo ninguém me entende
Mas o melhor é que ninguém fica tentando me entender
Ninguém quer saber pra onde estou indo
Ninguém vem me perguntar
Se estou dançando Chopin
Ou se é Carimbó
Viva essa massa espessa de terra achatada nos pólos como uma maçã
O mundo é só isso
O mundo é só
Êta, mundo besta
Pra onde vão todos quando chega o fim?
Quando as luzes se apagam?
Onde estão todos quando estou só?
Será que estão em alguma partida de pôquer num porão de um Pub londrino
Ou numa budega bebendo cachaça e caindo pro lado
Santa mãe do céu!
Onde isso acaba?
Devia acabar no início
Não antes de dar uma volta completa em torno de si próprio
E fazer uma análise precisa de como volta ao início
Devia acabar no Inácio
Eu acho
Antes que os olhos se direcionem ao precipício
E ganhe coragem antes de acertar na Mega-sena
Eu juro que eu quis ficar divagando aqui por um longo tempo
Mas a pouco fui me olhar no espelho do banheiro
E minha cara está péssima
Sabe uma mistura de choro contido, com sono fulminante
E mais uma dor de cabeça que vem e vai
E enquanto eu não dormir ela volta
Eu posso chorar de novo
Mas prometi que nunca mais ia chorar
Não por qualquer coisa besta
Não como ainda pouco
Meu maldito vício de quebrar promessas
Promessas colam com cola?
Prometo nunca mais ficar assim
Ou perder uma noite de sono sequer.