domingo, 16 de junho de 2013

OUTRAS

Outras

Não fui eu, não foi você
Ninguém é culpado por amar
Mesmo que o amor seja um crime
Pois que seja um crime o não amar.

Eu acordo mais cedo e vou pro sofá
Um café e um cigarro como a te brindar
Olho para o seu corpo ancorado em minha cama
Mas você não está lá.

Sei que guardo em outras as memórias de ti
E em todas elas eu vou me encontrar
Vou te procurar nos lençóis de outras camas
Mas em nenhuma outra eu vou te achar.

Vou perseguir os beijos de outras bocas
E em outras bocas hei de me afogar
Hei de ser cuspido ou devorado de prazer
Pela boca daquela que não é você.

Vou caminhar com passos de bêbado
Vou voltar pra casa no meu vai-com-deus
E no amanhecer vou querer os teus braços
Vou dormir nos afagos que não são os seus.

Acaso estiveres por todo lugar
Até nos outdoors quando eu for trabalhar
Vou sorrir como se fosse um sorriso pra ti
Mesmo que a retribuição do sorriso venha de outra.

Se eu te vir a sorrir esbanjando prazer
Vou mentir, vou dizer que já te esqueci
Quando olhares com o olhar do desejo
Nesse desejo teu rosto não refletir em mim.

Mas eu sei que pra sempre irás lembrar
Quando vinhas madrugadas bêbadas
E invadia meus sonhos desejo noturno
E dormia em meu peito enquanto durmo.

Não vou insistir nesse amor que não é meu
Já que não queres meu amor pra ser só seu
Esse amor que é tão grande posso partilhar

Com centenas de outras até você voltar.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

REALIZA

Realiza

Vem e me exorciza me livra dessas amarras de não te ter
Dessa minha boca que agoniza o desejo de você
Da minha mão que barbariza em tudo que não te tem
Desse teu corpo que catequiza o meu suor que te convém
O meu olhar centraliza o teu em silenciosas juras de amor
Você me coloniza me invade o continente ao pudor
E monopoliza tudo o que é mel na tua boca
E verbaliza que tocar as estrelas é coisa pouca
Contextualiza que o teu querer vai até amanhecer
E me autoriza a ser o precursor do teu prazer
E não se responsabiliza pelas coisas que vais falar
E materializa em mim o reflexo do teu gozar
Você desorganiza meu pensar e penso que será pra sempre
E profetiza que eu serei o profeta da promessa que se cumpre
E sacraliza que teu corpo será meu altar pra despejar as minhas juras
E dramatiza se essas minhas juras não forem todas puras
E enfatiza que estas juras sejam apenas em sua devoção
Minh’alma erotiza que tudo em mim é em sinal de tua adoração
E se especializa em focar apenas no prazer do teu corpo sem fim
E você me escraviza e despeja esse desejo todo em mim
Eterniza que seremos só nós dois gozando no mar eterno
E vulgariza linda e destruidora transformando o céu no inferno.
Me realiza todas as fantasias de um pierrô na quarta-feira
E vampiriza tudo o que há em mim, mesmo que eu não queira
Me utiliza como instrumento do teu desejo sem fronteiras
E mecaniza, harmoniza,  realiza que nossas viagens não serão passageiras.


quinta-feira, 13 de junho de 2013

ALADOS

Alados

Tua carne na minha boca eu te mastigo
Esse teu benquisto castigo
Eu não sei ser teu amigo
Não te quero para meu abrigo.

Eu te quero para incendiar a noite
Despir o sol com o açoite
Te levar pra Salém, meu bem
Te instigar, incitar, te levar além.

Quero seguir teu instinto
Beber teu veneno, absinto
Se te amo eu não minto
Tua intuição é o pão do meu eu faminto.

Eu te conheço bem, sei como é
Já sei te amar como te amaria uma mulher
Sei que não mando em teu coração
Mas eu só quero te abraçar a razão.

Te aceito mesmo somente entre primaveras
És o meu anjo e a minha quimera
Que me arranha depois some
E me deixa salivando e repetindo o teu nome.

Sei que não posso te aprisionar
Pois és alada, vais a todo lugar
Não posso voar, mas tenho o nome e as asas de um anjo

Mas tenho um banjo pra te cantar.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

DRY EX MACHINA

Dry ex machina

Eu, o homem que carrega o peso de doze dragonas nos ombros
Cedi a devassidão de teus devaneios e caí devoto de teu deshabillé
Desiderato a teu desejo drástico de donzela deusa divina
Eu, devasso e libertinoso fui deturpado pelo teu deus-dará
Mas que divindade dá o trigo pra depois dragar o pão em dobro
Eu como disparate dissuadi a ingerir diesel para depois cuspir as labaredas do dragão
E de joelhos diante de ti meu coração em disritmia distraído se declara em juras
Mesmo nesse teu distar meus sentidos apontam em tua direção
Mesmo com toda minha distinção não sou eu digno de tal adoração
Eu ditoso não atendi ao dispêndio dessa discricionária devoção
Fui dissuadido de minha diretriz de sempre discordar de seres divinos
Sempre rio de grande dimensão e liberdade me vi represado em teu dique transbordante
E com diplomacia tu discerniste diafanamente e fez de mim o teu devoto
E pôs abaixo minha mente dissidente dinamitada por tua doutrina
Eu, o homem que carrega o peso de doze dragonas nos ombros

Fui afundado nesse teu amor de diabo sedutor e sorridente sobre meus escombros.

LONGE

Longe

Não cabe a mim entender que isso acabe por instancia
Que a nossa distância não cabe nas medidas das nossas pertinácias
Eu enfrento as falácias das distantes e plácidas planícies
O fogo dela devora e consome, dá e tira, chega e some
Eu sentado no caminho no long way home
Drásticas e decepantes sem despedidas nem ordens de despejo
Eu me agarro no desejo desse teu órgão pulsante, coração
Se estás em minha ótica e fica nítida nessa tua pálida destruição
Viajo na tua carótida e vago entre teu coração e teu cérebro
Cérberus é o cão que guarda esse teu portão
E quando me ofereces numa mão o pão na outra teu amor
Dia após dia eu domo um dragão nessa lida da diáspora do desamor
Prática e trágica teu fogo se consome em mim
E por favor não diga que isso é o fim.


quarta-feira, 5 de junho de 2013

SANGUE E SEGUNDA-FEIRA


Sangue e segunda-feira

Não sei de onde vem isso, nem sei se preciso
Mas sei que seu tiro é preciso e me acerta
E me deixa de perna aberta
E me sangra, mas eu gosto
Desse teu samba
Desse amor na corda bamba.

Estou aqui com meus botões e meu cigarro já no fim
Levanto meu pensamento até você
Mas quero saber
Se você pensa em mim
Quando está só com seus dedos
Com os medos de estar só.

Eu quis não me culpe, mas eu quis
Esse amor por um triz
Esqueci que era a atriz
E que não podia em meu peito criar raiz
Se tuas pernas estavam no ar
E tuas mãos a me tocar.

O meu dom da premonição em ação
Minha maldição
Minha cantiga de maldizer
Foi cantada pra você
Mesmo com meu suor pingando em seus seios
Eu sabia de nosso amor, fruto de devaneios.

Então já posso sangrar
Se meu sangue é igual ao seu
Sei que já posso me martirizar
Sabendo que não posso te ter
Pois minhas punhetas ainda são dedicadas a você.

Eu bebi e brindei, eu sorri e dancei
Eu te devorei mesmo quente
Não comi pelas beiras
Só pra ver se esse sangue que é seu
É o mesmo que colore os jornais nas segundas-feiras.