terça-feira, 1 de dezembro de 2009

ELEFANTE

Elefante

I Ato
Abertura (texto lido em voz alta, e com ênfase ao fim das frases)

Alucinados pelo desejo de uma justiça cega
Vivendo a vida dos outros em estratégias de guerra
Eu só aprendi a dormir com as luzes apagadas
O que você tem contra a escuridão?
Enclausurados dentro de um container
O amor jaz debaixo da roda do caminhão.

Assim,
Não vejo problema em ser mal compreendido
Mas ainda estou aprendendo a amanhecer
Sou homem e por isso não aprendi a chorar
Sou poeta e só amo a mim mesmo
Levei muito tempo pra me acostumar
Mas você sempre muda os móveis de lugar.

Sou jovem e por isso sou agressivo
E sei bem que onde se lucra com a paz
Também se lucra com a guerra
Por isso quando a gente muda
A gente muda pra como era antes
E marcha a marcha lenta dos gigantes.

Sabe, eu tentei gostar disso
Disso de cão e gato
Mas você me desarmou antes do tempo
E sempre usou de poucas palavras
Passou por cima dos meus planos
E os colaterais efeitos durarão anos.

Há alguém que te observa
Lindamente enquanto dorme
Enquanto você planeja um plano diabólico
Eu estava lá, mas nunca fui católico
Nunca acreditei nessa tal destruição
E inconscientemente você semeou o grão.

II Ato
A Marcha (cantar como um hino bandeiroso)

Vou andando enquanto bêbado
Vou bebendo enquanto ando
Vou sonhando, no entanto durmo
E acordado enquanto sonho
Sonho o mesmo sonho de ontem, o sonho de antes
Lendo livros velhos das prateleiras empoeiradas das estantes.

Enquanto ela pisa sem olhar pro chão
Sem saber onde seu pé vai estar
E eu estou debaixo desse pé
Nos braços, nos passos dessa mulher
O segundo passo se difere do primeiro
O segundo tiro será bem mais certeiro.

III Ato
A Ciranda (cantar como uma cantiga de roda)

E passa por cima de tudo
Por cima de tudo ela passa
E passa com tudo por cima
Por cima de tudo ela passa
E passa por cima dos carros
E passa por cima das casas.
Por cima do meu amor
Passou como um trator
Levou meu barraco embora
Meu deus o que eu faço agora?

Fim
Encerramento (no centro, leitura como um texto explicativo, moral da história)

E assim ela passa cheia de graça
E destrói distraída o amor
Fazendo ruir as ruínas
Vai derrubando as paredes
Denunciando os amantes
Na marcha lenta dos elefantes.