segunda-feira, 29 de novembro de 2010

FODA-ME

Foda-me

Ao te arrepiares novamente lembrarás da minha língua circundando em tua vulva
Circulando tuas ancas e falando as profanidades e estamos sós no mundo
E beija com a boca que pragueja de uma dor bem quista
E chegas lá e gritas como se comemorasse sobre inimigos uma conquista.

E viras sem que eu precise dizer uma só palavra de ordem
E amada vadia implora uma punição maior assumindo mil crimes
E te violento por dentro como se não existissem pra mim limites
E pisas na glória celestial quando te ajoelhas sobre a mancha dos vimes.

E vou arrancando de ti a fome pelo desejo ainda insípido
Pelo lado de fora explode o sabor da coragem de pedir mais
Escravos do vício ilícito de ser usado por uma cruel bailarina
O místico se mistura a fuga da decência inocente de menina.

E vasculho um tesouro no teu corpo como que se criativo procuro mais meatos?
E ranges a fúria de mil demônios expelindo da catedral aos beatos?
E respiras vapores no meu rosto e olhas com o desprezo de depois te abandonares
E só diz me amares se de cadela eu te chamares.

E eu te amo como um cão faminto num cio furioso
Como o assassino que te escolheu para assim ser teu carrasco
Como o gigolô que ao te desprezares não vive sem você
Como metade da rua inteira te deseja como escravos do teu querer.

Mil homens te desejam ao te quererem e a sonharem contigo
Mil poetas sucumbem à morte por deixá-los sem palavras
Mas só eu percorro a via-sacra como se em ti buscasse abrigo
E só a mim concedes o viático dos enfermos que somente a ti é permitido lavrar.
Je t’ame, baise moi.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A BELA E A FERA

Só uma do Chico pra não peder o costume, tão gostosa de cantar, principalmente a versão do Ao Vivo Carioca

A Bela e a Fera

Edu Lobo - Chico Buarque
1982

Ouve a declaração, oh bela
De um sonhador titã
Um que dá nó em paralela
E almoça rolimã
O homem mais forte do planeta
Tórax de Superman
Tórax de Superman
E coração de poeta

Não brilharia a estrela, oh bela
Sem noite por detrás
Tua beleza de gazela
Sob o meu corpo é mais
Uma centelha num graveto
Queima canaviais
Queima canaviais
Quase que eu fiz um soneto

Mais que na lua ou no cometa
Ou na constelação
O sangue impresso na gazeta
Tem mais inspiração
No bucho do analfabeto
Letras de macarrão
Letras de macarrão
Fazem poema concreto

Oh bela, gera a primavera
Aciona o teu condão
Oh bela, faz da besta fera
Um príncipe cristão
Recebe o teu poeta, oh bela
Abre teu coração
Abre teu coração
Ou eu arrombo a janela
Samba pra Yasmin

Vou para o meio da rua só com o meu trompete e um saco de confete
Sozinho fazer meu carnaval
Todo vagabundo, malandro, pivete, pode vir no meu arraial
Pode imaginar o que quiser
Posso ser Mestre-sala se você for minha Porta-bandeira
Minha mulher, minha menina
Eu Pierrô, tu Arlequina
Da minha ou da tua maneira
Todo louco, bandido, amante, todo santo na estante
Todo vigia no portão
Todo meu samba batucado em forma de canção
Todo o meu samba é pra você
E você é o samba
Que faz pulsar meu coração
Toda Pietá, Iracema, Morena de angola com chocalho e canela
Desperta o sono da sentinela
Eu debaixo da tua janela
Cantando poemas de amor.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

NOSSO APARTAMENTO

Nosso apartamento

Tantos lençóis manchados pelas lágrimas de quando estou só
Meu corpo ainda sente tuas mãos tua voz hoje vaga no quarto vazio
Cada canção lembra e machuca me arrepia a nuca te lembrar assim
Ainda está em mim, tudo teu está em mim.

Tantos lugares vagos em nossa mesa, come comigo na mesa a tristeza
Tua risada hoje vaga por sem fins corredores e me faz rir também
Cada foto tua na moldura crua, parece que foi ontem, parece que ainda está aqui
Parece que ainda te vejo sorrir.

Mas vou me deitar com tantos outros na cama fria que foi nossa um dia
Tentando por um outro alguém no teu lugar
Mas sei que será em vão, pois meu corpo só treme na tua mão
Me resta o choro e solidão.

E pela nossa janela toda tarde agora é alegre, cheia de tantos sorrisos e sons
E sempre que chove, eu lembro quando chovia e tu não podia ir embora
Tardes em que faz calor, meu coração se enche de neve
Se tu fores embora agora, me leve.

Me leve embora deste apartamento, disso que me aparta do teu coração
Disso que me separa dos teus braços, disso que me sufoca em tensos laços
Eu prefiro morrer, eu quero me jogar no teu colo e dormir
E sonhar que ainda está aqui.


EU TE AMEI

Eu te amei

Deixe-me ver, deixe-me ser tu e eu serei só teu, pra sempre
Tua criatura, o espelho de tua glória, agora, minha, tua verdade
Quando o sol se lança por sobre teu formoso céu, teu véu
Meu coração, pé no chão, escarnece de felicidade.

O nome do teu nome, santa, madre, hei de matar, hei de morrer
Hei de viver atento a todos os teus detalhes, teu desenho perfeito
Teu compasso, teu passo, eu passo na tua rua todo dia
Só pra te ver, pra tentar te convencer, de que meus olhos sorriem ao te ver.

Eu quero me ver perto do teu rosto, meu reflexo em teus olhos
Teus dois olhos negros de jabuticaba, são flores negras
Tuas mãos nas minhas, minhas roupas sobre as tuas
Duas almas brancas e sorrisos vadios.

Então me chama, tu é chama, me aquece, nunca me esqueça ou me deixe te esquecer
Nunca me deixe conhecer a saudade que existe em mim em tom maior
Pois quando tu somes, eu esqueço até meu nome, eu choro durante o verão
Tudo hoje em mim fica pra amanhã, tudo hoje em mim fica a tristeza no divã.

Mas se por acaso não puderes, não me esqueça de repente, o nosso juramento
De por outro em meu lugar, me deixe aos poucos, pois são poucos os que poderão amar
Como eu amei, como eu amei, só eu sei, só tu sabes o quanto eu te amei
E eu amei, de verdade eu amei, por deus eu te amei.


sábado, 6 de novembro de 2010

LIES

Lies

Throw the liars in the fire
To see the lies fade slowly
Baptize the sinners on the water
To see if clothes became clean.

Let your blinds walks in the shine day
To know if they really want see
Let your murders in the darkness
To know if they fell the same fear.

Drain some flowers to get some perfume
Dream some dreams to know some faces
Drive some car to come back home
Because the true never comes.

Give to me another chance to believe
Give to me another chance to lie
Give to me another chance to decrease
Give to me another chance to die. So high.

Let you heath in the deep ocean
To suffocate your old truth
So consider my words nothing
Nothing floats on the vacuum.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

DOIS NA FOTOGRAFIA

Dois na fotografia

Ele a fotografava
Ela posava
E sorria
E lhe olhava com um par de olhos pretos
Olhos negros e grandes
Como uma mulher
Ela ficava toda pose
Mandava beijos
E provocava
Mas depois como menina
Se escondia por trás da cortina
Envergonhada
Ela dizia
Ele calava
Depois arrancava a câmera das suas mãos
E o jogava na cama
Como no cinema
Ela falava com diplomacia
E o que ele dizia
Era um poema
Ele calava entre as pernas dela
Ela gritava
Ela gemia
Às vezes perecia que chorava
Mas logo dizia
Palavras de ordem
Gestos de amor
Gritava de alegria
Gritava de dor
E longa aquela noite
Naquele corpo sem fim
Até os dois sumirem silenciosos
Por entre a fumaça dos cigarros
Por entre as buzinas dos carros
Por entre os blues e os destilados.