sábado, 25 de dezembro de 2010

DIA D

Dia D

Desliguei as lâmpadas do quarto e divaguei sobre dons divinos
Descansei sobre a dádiva do infinito e sonhei com fadas e duendes
Destruí a cela que me aprisionava dentro de outra dimensão
Devagar dei passos rasos dentro dos jardins do coração.
Disse a todos da sensação de estar do lado certo da ocasião
Deus me diga se seria eu merecedor de tal doença
Deveria eu, querer pra sempre a dor alegre da doação?
Dissertei com diplomacia a democratização destas palavras
Desci fundo no dever de agora ser, dois
Diga a mim que o mal deixará pra depois
De agora em diante dividiremos o dom de ser só um
De devolver a liberdade roubada das flores depois do meio-dia
De dormir pensando em acordar do teu lado, Diana
Deus, eu nem sairia da cama.

És como a flor, a diferença é que podes levar teu perfume a todo lugar.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

CLUBE NIILISTA

Clube Niilista

Ando chorando para cenas românticas em filmes de ação
Vou morrer operário, nunca serei patrão
Meu filme favorito ainda é O Poderoso Chefão
Ó meu Deus por favor não.

Um dia eu me mato
Meu disco favorito é o 17 Big Golden Hits Super Quentes Mais Vendidos do Momento
Do Língua de Trapo.

A única vez que venci na vida foi no fliperama
Ainda acho que a melhor coisa da vida é dormir nu na cama
Será que há algo errado comigo?
Só ouço musicas do tempo em que eu ainda nem era nascido.

Tentei até ser comunista quando adolescente
Fui preso muitas vezes jurando ser inocente
Peguei porrada de muito policial
Desisti, eu caí na real.

Juro que tentei ser escritor
E vender livros no exterior
Mais sou frustrado com essas coisas complicadas
E ser poeta não me levará a nada.

Achei que podia ser Chico Buarque
E te convencer a comer açaí com charque
Mas você sempre foi muito egoísta
E me deixava sempre parado na pista.

Queria morrer como Charles Bukowski
Mas descobri que tenho medo de morrer
Não me julgue um desesperado
Só não quero saber o que tem do outro lado.

Peguei minha mulher com o seu novo amante
Mas ele era filho do meu atual patrão
E o convidei para tomar uma cerveja
Rindo de mim ele me disse não.

Resolvi então virar evangélico
Quem sabe assim mudava a situação
Mas acabei tendo que lavar os banheiros
Para poder garantir minha salvação.

Eu sempre fui como Caetano
E sempre achei tudo muito lindo
Mas sempre acabo entrando pelo cano
Desnorteado, sem saber onde estou indo.

Rezava toda noite para o cigarro não acabar as três da manhã
Para o bar não fechar antes de amanhecer
Mas você sempre saia dizendo não me querer mais
Então voltava pra casa e tentava dormir em paz.

Me incentivando eles diziam: Vai dar tudo errado no final
Ainda é tempo meu amigo, desista
Volte agora mesmo para o Clube Niilista
Onde é o Clube Niilista?


segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

TITÃ

Titã

Eu posso ir contra a vontade do teu olhar
No amanhecer de uma guerra, a insônica
Acender a pira funerária e por Roma em chamas
Assim por fim na tenra lenda babilônica.

Devastou cidades com teus códigos mefistofélicos
Tuas meias-luas, meias-palavras, meias-verdades
Metade do teu poder infinito de me por em ruínas
De por em ruínas teu povo e tuas próprias cidades.

Proeminente febril numa tempestade de vestido
Decimais andares de terror e beleza
Vis cantares em exaltação de outros amores
Fétidos, rastejam companheiros da nossa proeza.

Paliativos teus gestos me condenam ao sofrer
Honoráveis gestos que matam e toma para si as atenções
Gritos absurdos me atordoam e me parto em porcelana
O “cale-se” latente em ecos e aliterações.

Consagram-se malditos os condenados discordantes
Cantam as valsas sem sentido pelos poetas
Costura a boca da voz de Deus e do povo
Desgovernada anunciada pelos patéticos profetas.

Nesta parábola falam-me somente do teu eu inacessível
Do espírito dos imperadores tiranos que tens
Passas de outra para outra a transmutação
De estrela morena a ravena maldita que nos isenta de bens.

Levas teu vulto a aqueles que a querem, maledicência
A mortalha por noites será nosso talismã
Amo-te sim porem, sou deveras humano
Sou um nada perante teu inestimável titã.

E assim dos dias se fizeram noites longas e frias por toda terra.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

FODA-ME

Foda-me

Ao te arrepiares novamente lembrarás da minha língua circundando em tua vulva
Circulando tuas ancas e falando as profanidades e estamos sós no mundo
E beija com a boca que pragueja de uma dor bem quista
E chegas lá e gritas como se comemorasse sobre inimigos uma conquista.

E viras sem que eu precise dizer uma só palavra de ordem
E amada vadia implora uma punição maior assumindo mil crimes
E te violento por dentro como se não existissem pra mim limites
E pisas na glória celestial quando te ajoelhas sobre a mancha dos vimes.

E vou arrancando de ti a fome pelo desejo ainda insípido
Pelo lado de fora explode o sabor da coragem de pedir mais
Escravos do vício ilícito de ser usado por uma cruel bailarina
O místico se mistura a fuga da decência inocente de menina.

E vasculho um tesouro no teu corpo como que se criativo procuro mais meatos?
E ranges a fúria de mil demônios expelindo da catedral aos beatos?
E respiras vapores no meu rosto e olhas com o desprezo de depois te abandonares
E só diz me amares se de cadela eu te chamares.

E eu te amo como um cão faminto num cio furioso
Como o assassino que te escolheu para assim ser teu carrasco
Como o gigolô que ao te desprezares não vive sem você
Como metade da rua inteira te deseja como escravos do teu querer.

Mil homens te desejam ao te quererem e a sonharem contigo
Mil poetas sucumbem à morte por deixá-los sem palavras
Mas só eu percorro a via-sacra como se em ti buscasse abrigo
E só a mim concedes o viático dos enfermos que somente a ti é permitido lavrar.
Je t’ame, baise moi.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A BELA E A FERA

Só uma do Chico pra não peder o costume, tão gostosa de cantar, principalmente a versão do Ao Vivo Carioca

A Bela e a Fera

Edu Lobo - Chico Buarque
1982

Ouve a declaração, oh bela
De um sonhador titã
Um que dá nó em paralela
E almoça rolimã
O homem mais forte do planeta
Tórax de Superman
Tórax de Superman
E coração de poeta

Não brilharia a estrela, oh bela
Sem noite por detrás
Tua beleza de gazela
Sob o meu corpo é mais
Uma centelha num graveto
Queima canaviais
Queima canaviais
Quase que eu fiz um soneto

Mais que na lua ou no cometa
Ou na constelação
O sangue impresso na gazeta
Tem mais inspiração
No bucho do analfabeto
Letras de macarrão
Letras de macarrão
Fazem poema concreto

Oh bela, gera a primavera
Aciona o teu condão
Oh bela, faz da besta fera
Um príncipe cristão
Recebe o teu poeta, oh bela
Abre teu coração
Abre teu coração
Ou eu arrombo a janela
Samba pra Yasmin

Vou para o meio da rua só com o meu trompete e um saco de confete
Sozinho fazer meu carnaval
Todo vagabundo, malandro, pivete, pode vir no meu arraial
Pode imaginar o que quiser
Posso ser Mestre-sala se você for minha Porta-bandeira
Minha mulher, minha menina
Eu Pierrô, tu Arlequina
Da minha ou da tua maneira
Todo louco, bandido, amante, todo santo na estante
Todo vigia no portão
Todo meu samba batucado em forma de canção
Todo o meu samba é pra você
E você é o samba
Que faz pulsar meu coração
Toda Pietá, Iracema, Morena de angola com chocalho e canela
Desperta o sono da sentinela
Eu debaixo da tua janela
Cantando poemas de amor.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

NOSSO APARTAMENTO

Nosso apartamento

Tantos lençóis manchados pelas lágrimas de quando estou só
Meu corpo ainda sente tuas mãos tua voz hoje vaga no quarto vazio
Cada canção lembra e machuca me arrepia a nuca te lembrar assim
Ainda está em mim, tudo teu está em mim.

Tantos lugares vagos em nossa mesa, come comigo na mesa a tristeza
Tua risada hoje vaga por sem fins corredores e me faz rir também
Cada foto tua na moldura crua, parece que foi ontem, parece que ainda está aqui
Parece que ainda te vejo sorrir.

Mas vou me deitar com tantos outros na cama fria que foi nossa um dia
Tentando por um outro alguém no teu lugar
Mas sei que será em vão, pois meu corpo só treme na tua mão
Me resta o choro e solidão.

E pela nossa janela toda tarde agora é alegre, cheia de tantos sorrisos e sons
E sempre que chove, eu lembro quando chovia e tu não podia ir embora
Tardes em que faz calor, meu coração se enche de neve
Se tu fores embora agora, me leve.

Me leve embora deste apartamento, disso que me aparta do teu coração
Disso que me separa dos teus braços, disso que me sufoca em tensos laços
Eu prefiro morrer, eu quero me jogar no teu colo e dormir
E sonhar que ainda está aqui.


EU TE AMEI

Eu te amei

Deixe-me ver, deixe-me ser tu e eu serei só teu, pra sempre
Tua criatura, o espelho de tua glória, agora, minha, tua verdade
Quando o sol se lança por sobre teu formoso céu, teu véu
Meu coração, pé no chão, escarnece de felicidade.

O nome do teu nome, santa, madre, hei de matar, hei de morrer
Hei de viver atento a todos os teus detalhes, teu desenho perfeito
Teu compasso, teu passo, eu passo na tua rua todo dia
Só pra te ver, pra tentar te convencer, de que meus olhos sorriem ao te ver.

Eu quero me ver perto do teu rosto, meu reflexo em teus olhos
Teus dois olhos negros de jabuticaba, são flores negras
Tuas mãos nas minhas, minhas roupas sobre as tuas
Duas almas brancas e sorrisos vadios.

Então me chama, tu é chama, me aquece, nunca me esqueça ou me deixe te esquecer
Nunca me deixe conhecer a saudade que existe em mim em tom maior
Pois quando tu somes, eu esqueço até meu nome, eu choro durante o verão
Tudo hoje em mim fica pra amanhã, tudo hoje em mim fica a tristeza no divã.

Mas se por acaso não puderes, não me esqueça de repente, o nosso juramento
De por outro em meu lugar, me deixe aos poucos, pois são poucos os que poderão amar
Como eu amei, como eu amei, só eu sei, só tu sabes o quanto eu te amei
E eu amei, de verdade eu amei, por deus eu te amei.


sábado, 6 de novembro de 2010

LIES

Lies

Throw the liars in the fire
To see the lies fade slowly
Baptize the sinners on the water
To see if clothes became clean.

Let your blinds walks in the shine day
To know if they really want see
Let your murders in the darkness
To know if they fell the same fear.

Drain some flowers to get some perfume
Dream some dreams to know some faces
Drive some car to come back home
Because the true never comes.

Give to me another chance to believe
Give to me another chance to lie
Give to me another chance to decrease
Give to me another chance to die. So high.

Let you heath in the deep ocean
To suffocate your old truth
So consider my words nothing
Nothing floats on the vacuum.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

DOIS NA FOTOGRAFIA

Dois na fotografia

Ele a fotografava
Ela posava
E sorria
E lhe olhava com um par de olhos pretos
Olhos negros e grandes
Como uma mulher
Ela ficava toda pose
Mandava beijos
E provocava
Mas depois como menina
Se escondia por trás da cortina
Envergonhada
Ela dizia
Ele calava
Depois arrancava a câmera das suas mãos
E o jogava na cama
Como no cinema
Ela falava com diplomacia
E o que ele dizia
Era um poema
Ele calava entre as pernas dela
Ela gritava
Ela gemia
Às vezes perecia que chorava
Mas logo dizia
Palavras de ordem
Gestos de amor
Gritava de alegria
Gritava de dor
E longa aquela noite
Naquele corpo sem fim
Até os dois sumirem silenciosos
Por entre a fumaça dos cigarros
Por entre as buzinas dos carros
Por entre os blues e os destilados.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

DEUS ESTÁ MORTO

Deus está morto

O amor é paciente por isso espera em silêncio
O amor é um paciente do Hospital das Clínicas
O amor repousa gritante na ala da loucura
O amor é um câncer e não tem cura.

Deus é amor, o amor é cego, Deus é um cego apaixonado
Deus é um cego pedindo esmolas na rodoviária
Deus é uma criação do homem, o homem do acaso
Deus é um milagre da ciência, o homem não tem muito o que fazer.

O homem destrói tudo o que ele não pode entender
O homem criou a justiça para se culpar
O homem é uma injustiça consigo mesmo
O homem é um Tiranossauro Rex com PhD.

Deus é um escultor apaixonado e eternamente arrependido

O CARA

O cara

Minha cara,
Não aponte o dedo
Na minha cara
Como se aponta
O dedo na cara
Do culpado
Como se aponta
O revolver
Na cara do refém.

Minha cara
Eu estou lhe dando
Minha cara à tapa
Pois senão
Eu fico com cara de tacho
Depois que passa
A procissão
Eu fico com a cara
No chão
Com cara
De cachorro pidão.

Minha cara
Quando eu passo
Todos dizem
Lá vai o cara
Que é só mais um
Só mais um cara
O cara da foto
Um cara normal.

Mas se me disseram
Que tudo o que eu quiser
O cara lá de cima vai me dar
Mas para o que quero
Tenho pressa
Não tem preço
É muito caro
Eu quero amor
Pra recomeçar
Como o Frejat
Como o Cazuza
Eu quero ser o teu cara
Minha cara.

TEMPO AO TEMPO

Tempo ao tempo

Vivemos em função do tempo
Corremos contra o tempo
O tempo é o dinheiro no fim do mês
Todo mundo perde dinheiro, perde tempo.

Eu preciso de tempo, pois
Não tenho tempo a perder
Se você tiver tempo
Eu quero comprar, você quer vender.

O tempo vive me passando a mão
Me comendo sem vaselina
O tempo, tampa de panela de pressão
O tempo nunca me deixa ficar por cima.

O tempo não tem tempo
Por isso é preciso dar tempo ao tempo
De quanto tempo eu preciso,
Para te ter todo tempo?

E quando o tempo acaba?
O que você faz quando sobra tempo?
Você tem tempo pra mim?
Eu quero ter tempo pra te ter todo o tempo.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A HISTÓRIA DE UM CORAÇÃO SOLITÁRIO E VAGABUNDO

A história de um coração solitário e vagabundo

Quando eu dei por mim ele já estava lá repousando como uma criança
Não questionei, não reclamei, apenas deixei que ficasse
E ele ficou, sereno e sonolento batendo ritmado e tranquilo
Se hospedou naquele lugar apertado e escuro de meu peito
E meu peito era como um claustrofóbico quarto de empregada
E assim ele esteve em silêncio então não lhe cobrei nada.

Até que num belo dia o ouvi cantarolando e batendo em ritmo de samba
No inicio parecia algo normal, pois de samba eu também gostava
E era até bonito o jeito da sua suave e alegre melodia
Ele havia encontrado uma razão para suas pulsações, uma moça
Era uma bela moça com um belo coração de festa de aniversário
E assim ficaram todos os dias batendo compassados, dois corações livres.

Ele logo mostrou interesse e todos os dias acordava cedo, o coração-trabalhador
E o coração dela amanhecia na cama numa linda preguiça de sono feminino
E todos os dias eles sonhavam batendo felizes e satisfeitos quase que em sincronia
Ele aprendeu com ela, ela com ele, juntos somaram muitos aprendizados
E sempre que podia ela lhe dizia coisas fantásticas que só um coração de mulher pode entender
E ele ficava maravilhado com tantas coisas incríveis que juntos eles descobriam.

Mas o coração dela era um coração alado e sempre sonhava voos mais altos
Era um indomável coração de mulher como só um coração de mulher deve ser
Meu peito então se tornava pequeno demais perante as suas vontades cada vez maiores
E junto com o coração dela ele quis voar para além de todos os céus possíveis
E ele abandonou meu peito assim como chegou sem aviso prévio de nada
E voou, voou no sonho mais incrível e intenso de Ícaro, como o Pégaso indomável cavalgando entre nuvens.

Minha vida voltava ao normal, eu sem coração raciocinava melhor para as coisas
Eu conseguia enxergar melhor os obstáculos e transpassá-los
E levava minha vidinha miserável de homem solitário
Não sentia mais nada e nem desejava mais sentir
Pois os sentimentos me atrapalhavam as outras coisas que estão fora do coração
Apenas existia, pois sem coração só se pode existir.

Mas numa noite durante um sono profundo alguém me batia à porta
Ao abrir lá estava ele, triste, solitário e bêbado, um verdadeiro coração vagabundo
Ele entrou no meu peito e se acomodou deitando pesadamente e dormindo
E novamente não questionei, não fiz perguntas apenas aceitei normalmente
Ele dormiu durante alguns dias e parecia estar tudo em paz novamente
Ainda pensei em ir lá e lhe cobrar aluguel, lhe cobrar respostas, mas não o fiz.

Mas a calma em que ele estava durou somente durante seu profundo sono
Quando ele acordou já não era o mesmo, estava frio e com um ar maligno
Era o coração negro, o coração satânico, o coração tropical coberto de neve
Um coração de açougueiro e aquilo me assustou, de início e tive medo de questioná-lo
Mas como vi o mal ele fazia a si mesmo fui tentar uma conversa
E ele me recebeu de pedras nas mãos, de arma carregada, uma injúria à minha pessoa.

Lhe dei do próprio remédio e despejei nele álcool e cigarros e sexo
Cada noite com uma marca de cigarros nova, com uma bebida diferente, com uma mulher mais suja que a anterior.
Isso aconteceu por umas semanas e no começo ele resistiu, mostrou-se forte
Mas os dias iam se passando e aquela vida sem sentido ia lhe consumindo
Ia lhe torturando acordar todos os dias na sarjeta sujo e sem dinheiro
Foi quando ele veio até mim e decidiu falar.

E falou de como foi incrível sua jornada em busca do infinito ao lado daquela que foi sua
Mas que ela se encheu de tédio, que tudo o que ele lhe dava não mais a satisfazia
Que ela havia se fechado e jogado a chave fora e voou para mais longe
Ele vagou desolado perdido por longos dias e longas noites sem rumo
Tudo em sua vida não fazia mais sentido, tudo era incerto e sem nexo
Foi então que ele se descobriu sozinho pra sempre e resolveu voltar.

Reconhecendo seu erro de encegueirado eu o aceitei de volta
Desde que ele se portasse como no inicio e tentasse deixar a paz prevalecer entre nós dois
E assim foi novamente, não se ouvia mais nada naquele cubículo que é meu peito
A não ser um coração solitário batendo em silêncio
Estou feliz por a gente se entender apesar de ser assim sem comunicação
Mas é melhor que seja assim, pois não posso me dar ao luxo de assumir um coração louco como este meu, um coração de poeta.

Foi preciso contar essa história para poder explicar o porquê de você ter ouvido uma batida parecida como samba por esta manhã no meu peito
Aquela moça de coração indomável voltou e dizem que mudou
Que passou por tudo o que eu passei
Mas dessa vez se tiver de acontecer de novo eu vou estar preparado
Não cometo o mesmo erro duas vezes, não mais.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

SUA MENINA

Ando cantarolando essa aqui agora por esta hora alegres de minha vida, Arnaldo Antunes jogando sempre concreto na música brasileira e mostrando que simplicidade é cult e que pode soar mais elaborado do que podemos imaginar, lindo disco, linda música, Iê, Iê, Iê...


Arnaldo Antunes - Sua Menina




Você trata muito mal sua menina
Um dia ela vai puxar o carro
De sua barba mal feita, seu catarro
Um dia ela vai encher o saco.


Você trata muito mal sua princesa
Um dia ela vai virar a mesa
Seu olhar só vê o seu umbigo
Um dia ela vai ficar comigo.


Você olha para ela com desprezo
Como um déspota destrata uma empregada
Das grades do orgulho onde está preso
Você maltrata a sua namorada.


Seu terno engomado, seu perfume
Seu tédio, seu remédio digestivo
Seu eterno pesadelo de ciúme
Um dia desses ela vai te dar motivo.


E ficar comigo
E ficar comigo
E ficar comigo sim.


Vai ficar comigo
Vai ficar comigo
Vai ficar comigo só.


Você trata muito mal sua pequena
Um dia ela vai sair de cena
E o remorso vai te torturar sem pena
Quando a vir ao meu lado no cinema.


Você trata muito mal o seu amor
Não rega com carinho a sua flor
Depois de ver o que você já fez
Com certeza ela vai sumir de vez.


Vai sumir comigo
Vai fugir comigo
Vai sumir comigo sim.


E ficar comigo
E ficar comigo
E ficar comigo só.

Ouça clicando aqui Arnaldo Antunes - Sua Menina

PARISE

Parise


O olhar triste e boêmio dela como as luzes baixas que amarelam os paralelepípedos assimétricos eu desnivela a rua
As mãos brancas e suaves traduzem uma delicadeza quando se cruzam descansadas sobre seu vestido de lua
O desenho de suas pernas vista sob o foco de uma Roley Flex , sonho, Edith Piaf nua
Os cabelos presos uniformemente duas mechas encaracoladas sob o rosto que expressa um frescor e uma calma européia somente sua.


E aqueles lábios, aquela boca que por vezes ofegantes respirou profundamente após tantos beijos intensos
E aqueles braços magros porém fortes por abraçarem todos os dias os filhos e arrumar todos os dias a casa
E aqueles ombros que por tantas vezes foi molhado pelas lágrimas alheias e afagou tantos muitos homens que choravam como criança
E ouvidos que obedecem ordens e tantas histórias sob o som dos pianos das valsas.


E eu admiro ela, valsa-pérola todos os dias da minha janela, escrevo poemas e cartas de amor
Pinto tantos quadros com aquele rosto que nem a mais linda pintura na mais rica moldura poderia ser mais bela
E rio das mocinhas francesas que se olham no espelho e se conversam que quando crescerem querem ser como ela, Parise
A valsa-pérola que sempre deixa um tanto de seu batom no cigarro e na borda da taça de vinho enquanto valsa.


Sonho com ela sonhos incríveis, sonhos impossíveis que somente com ela eu poderia sonhar
Mas não tenho coragem de a ela assumir o que sinto, pois não me sinto digno de tanta beleza
Então apenas a observo de mina vidraça semi-embaçada enquanto a desenho nua valsando na ponta dos pés
E cantando como o pardal de olhos fechados sonhando os sonhos que não são comigo.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

LOUCO

Louco


Louco dirás que estou a perder-me por teus caminhos
E que ilusoriamente me acometo por tuas palavras
Que encegueirado tatearei no escuro do teu íntimo
E que defenderei de pés juntos as tuas juras.


Ora pois, se afirmas que estou débil
E que de loucura tu muito entendes
Em loucura lhe digo e afirmo
Poucos restarão sãos após conhecê-la.


Se me vedes a vagar como que sem rumo
É porque somente nos caminhos dela eu caminhava
E se me vedes em gestas tantos obscenos
É que a obscenidade tomou lugar do romantismo.


Se me assistes bruto com tantos outros amores
Saibas que é a resposta a tantas outras dores
E se hoje observo bestificado o infinito
É porque era infinito o profundo daqueles olhos.


Se o que ouves de minha boca são sussurros sem nexo
Digo-lhe não haver palavras que expressem o que sinto
Se de teus sonhos discordo por medo ao futuro
Saibas que o passado é um livro ainda não lido.


E se carrego comigo tantas lembranças
É porque estas lembranças me mantêm como o louco que sou
E se reluto em esquecer o que vivi
Saibas tu que foi com isso que aprendi.

O CORREDOR DA MORTE É PINTADO DE AZUL-CELESTE

O corredor da morte é pintado de azul-celeste

Com medo de que alguém os ouvisse eles apenas sussurravam poucas palavras
Não conseguiam raciocinar o suficiente para reproduzirem uma frase inteira
Seus olhos olhavam nos olhos, no profundo dos olhos de cada um deles
E os olhos se enchiam de lágrimas, lágrimas de uma felicidade reprimida
Seguravam as mãos um do outro e as mãos se enchiam de suor e tremedeiras
Mas nada falavam, pois se falavam, falavam com os olhos e com gestos semi-obscenos
E aquela cena causava um transtorno, um desconforto, pois cada um deles era uma cela
E aprisionava um monstro furioso que se debatia nas grades gritando por liberdade
Este monstro impaciente quase demente aguardava com eles no corredor da morte
Uma morte já antes anunciada por tanta doçura naqueles olhares
Eles queriam, mas não podiam e nem sabiam como explicar
Apenas esperavam pacientes a hora chegar
E em toda recíproca sempre verdadeira, ele falava, ela respondia
Ela exclamava, ele sorria e se torturavam enquanto trocavam os olhares
Havia uma faca para cada pulsação daqueles corações que sangravam
Faltava ar naqueles pulmões que sufocavam
Faltava voz para poder gritar e vomitar tantas palavras
Faltavam palavras
Faltavam gestos
Faltava algo
E ninguém fez nada
Mas foi cada um para o seu canto pensando o quanto seriam felizes
Depois de passar pelo corredor da morte poderiam passar por qualquer coisa.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

PARIS DOS AMANTES

Paris dos Amantes


Lá estava ela insandecida pelas palmas e pelas luzes e todos homens ali presente a desejavam despi-la nua
Havia, porém um que lhe comia, mas não aplaudia, pois sabia que no fim da noite ela seria sua
Intrigantes aquelas pernas de meias arrastão de passos de dança eram sexualmente hipnotizantes
Seu vestido vermelho como as anáguas como seus lábios como sua língua se umedeciam
Aquela música inundava o cabaré fazendo de todos os olhares encegueirados.


Era um anjo vindo dos infernos pronto para abraçar a todos com suas asas em chamas
Nem toda a luz do mundo era capaz de ofuscar o brilho daquele brilho naqueles olhos
Ela porem não expressava qualquer reação perante o tão divino ser
E depois dos aplausos finais das fotos para os jornais ele foi até o camarim
E a segurou com tanta força que ela não esboçou reação alguma.


Não trazia flores nem cartas muito menos um poema
Trazia olhos verdes, barba mal feita, jaqueta de couro preta e um cigarro fedorento
Apenas dizia de uma forma fria que ela deveria seguir com ele aquela noite
Ela desta vez hipnotizada foi levada para dentro de um caminhão
E ele dirigiu pela estrada escura rumo a uma noite de perdição.


Pararam na beira da estrada no meio do nada e fizeram amor no caminhão
Nus depois foram pra fora acenderam cigarros beberam vodka
E ela queria que aquela noite não virasse dia a não ser pelo amanhecer do sonho que ela sempre quis
Semana que vem ela estaria num trem rumo à Paris
Mas ele era o homem que habitava em seus sonhos e poderia ser feliz com ele pra sempre.


Na outra semana ela acorda sozinha na cama ele partiu pra outra viagem
Como arrependida ela lembra que poderia ter sido feliz sob as luzes de Paris
Ao invés de esperar ele nunca chegar de outra viagem de outros braços de outras mulheres
E seguiu dessa forma por três longos anos ela ficava em casa lavava e passava
Enquanto ele viajava por todo o mundo, mas nunca a levava sozinha em casa ela sofria.


Até que um dia numa manhã fria recebeu a notícia de um certo estranho que dirigia o caminhão dele
O estranho dizia quem em briga de bar ele havia perdido levado três tiros e morrido
E com todo respeito o estranho trazia como por direito a única coisa que ele havia prometido
Aquele caminhão bruto e triste de faróis compridos que havia abrigado o sono de muitas meretrizes era a sua herança
Ela apenas sorriu o estranho partiu e ela resolveu vender aquele amontoado de metal frio.


E com o dinheiro da herança e se lança num trem rindo como criança rumo ao seu sonho
Com um brilho no olhar como nunca jamais visto antes ela vislumbrou as luzes da Paris dos Amantes
E fez fama e dinheiro rodou o mundo inteiro conheceu tantos homens melhores piores
Tinha seu rosto em cartazes tinha jóias tinha ouro tudo o que sempre quis
Mas nunca foi feliz e morreu numa overdose solitária no seu apartamento ouvindo o som dos Amantes de Paris.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

CISMA

Pua merda como eu enlouqueço quando ouço Tool, meu Deus que arranjos, de onde eles tiram essas idéias loucas, não sei, mas realmente a excelência da banda está nas letras que brotam da cabeça insana e doentia de Maynard James Keenan, essa é uma das minhas músicas e letras favoritas deles e como que por conincidência fala de como ando me sentindo nestes últimos dias(clique no título e assista o vídeo).


Cisma


Eu sei que as peças se encaixam pois eu as ví despencando
Sutis e queimando sem chama, difenrindo-se fundamentalmente,
Pura intenção justaposta porá duas almas amantes em movimento
Desmanchando-se enquanto passa, testanto nossa comunicação
A luz que abastecia nosso fogo e que depois queimou um buraco entre nós que
Não podemos ver o fim que está incapacitando nossa comunicação.


Eu sei que as peças se encaixam porque eu as vi se despedaçarem
Sem culpa, ninguém para culpar não significa que eu não queira
Apontar o dedo, culpar o outro, contemplar o templo tombando
Para trazer as peças de volta, reaver a comunicação.


A poesia que brota do jardim intermediário,
E do circulante que se lhe encaixa
Encontrando beleza no contraste


Houve um tempo em que as peças se encaixavam, mas eu as assisti despencarem
Sutis e queimando sem chama, estrangulada pela nossa vontade
Eu fiz as contas o bastante para saber dos perigos de uma segunda dedução
Destinados a quebrar a menos que cresçamos e fortaleçamos nossa comunicação


Silêncio frio tende a atrofiar qualquer
senso de compaixão
Entre supostos amantes
Entre supostos irmãos


E eu sei que as peças se encaixam