sexta-feira, 25 de março de 2011

PINOT NOIR

Pinot Noir

eu tive em minhas mãos um corpo
e sua pele era doce com uma Pinot Noir
branca como a mais linda manhã de outono
que em minhas mãos rubravam
e aquele corpo era de uma inocência científica
não havia pudor em meus olhos
apenas um desejo
uma inquietação
um mendigo que deseja o pão.

mas me contive perante tão fragilidade
tanta porcelana junta eu podia enlouquecer
e com uma precisão cirúrgica
percorri aquela via-sacra
eu salivava
mas não tirava os olhos daquela boca
e desejei cada centímetro
cada milímetro
cada gota de suor.

e foi algo tão puro tão decente
tão limpo
como se um milhão de borboletas colorissem o inferno
e o que se ouvia era o som da chuva batendo na janela
era a pintura mais bela
depois da chuva
o silêncio
e a respiração desajustada
a insipidez de dois corpos desnudos
duas almas vagabundas
desnorteadas
implorando perdão.

salivando o Velouté carnal
sobre as cobertas lavadas com o suor
não havia mais inocência
nem religião
menos ciência
haviam apenas dois corpos que se desejavam infinitamente
com o intuito de se consumirem até o fim dos tempos.