domingo, 18 de setembro de 2011

NÃO MAIS

Não mais

Eu não quero mais uma flor no meu jardim
E não mais se chamará jardim, se chamará desastre
Um buquê qualquer atravessa a janela e se desmancha no meio da rua
Da rua ramalhete
E o bilhete?
O vento leva e não aceite as desculpas
Pois é assim que o vento distraído leva as desculpas não aceitas.

E não mais sol iluminando a desdita vida
Pois o sol me acorda e eu não gosto de sol
Nem de nada que interrompa a minha noite
Não mais prazer de noites infinitas
Que a luz apaga pela manhã
Não quero o sol batendo na minha cara
Como se fosse o meu marido traído me descobrindo
Como o sol vai me despindo pela manhã.

Nunca mais calmaria, nunca mais paz
Não sei ter paz sem estar numa guerra
Não sei estar numa guerra e não estar feliz
Eu quero sangue
E sei brindar
E vou beber
E comemorar mais uma batalha
Meu coração está à solta, está armado e é perigoso
Pois já esteve em muitas prisões.

Eu não quero mais o silêncio que dá sono
Eu quero o som da explosão nos meus ouvidos
E se eu danar para a orquestra de silêncios
Que seja no meio da rua
Eu quero estar na rua quando a banda passar falando de amor
O amor vai passar
Eu quero mesmo é banda tocando no meu quarto
Eu quero o carnaval no meu telhado
Mesmo que seja um carnaval de gatos sujos.

Eu não quero mais as coisas que me fazem parar
Pra ficar bestificado, admirando a vida
Minha vida partiu num trem pela manhã
E levou meu coração partido em cacos

CÃES DE ALUGUEL

Cães de Aluguel

Meus olhos acompanham as luzes da cidade
E famintos devoram toda a eletricidade
E tua boca em silêncio me dava boas vindas
E tua febre incendiava minhas asas
E eu desfalecia em teus braços de abismos
Crente de que a nossa sã hemorragia não nos mataria
Quando me encontrei na sanguinária luta
Meus braços que te protegiam
Eram os mesmos que apunhalavam outros peitos
E nossas mãos em gestos de adoração
Imploravam súbitas canções
Os cães guardam os portões
Mas quem guarda os cães?
E durante a árdua batalha
Em que eu protegia as tuas costas
Repentinamente te viraste contra mim
Lentamente me olhaste olhos nos olhos
Subitamente molhastes os teus lábios
E verdadeiramente me destes um beijo sincero
Eu te apertei contra o meu peito
E todo o inferno a nossa volta se desfez
Era a nossa vez
E fui tirando os pés do chão
E fui sendo possuído por tuas vontades
Fui consumindo a eletricidade, a verdade
Até estar totalmente mergulhado em nuvens
O teu espirito tem um dom
E é bom
E me conduz hipnotizado pelo som
Até acordar pra descobrir que era sonho.

FABER CASTELL

Faber Castell

Uma garotinha de vestidinho florido
Inocente e sem noção do perigo
Achava o mundo divertido
E esse meu mundo cinza deixou colorido.

Uma garotinha e seu lápis de cor
Que pintou o meu céu de vermelho
Que pintou o meu inferno de azul
Que sorria com os olhos e seus olhos brilhavam.

Era uma garotinha e seu divertido trator de brinquedo
Pôs em ruínas meu mundo em construção
Me pôs em contramão na minha contramão
E pôs luz no escuro do meu coração.

Uma garotinha com asinhas de querubim
Derrubou o maléfico titã que havia em mim
Me estendeu a mão, me tirou do chão
E me levou até o seu parque de diversão.

Uma garotinha com uma caixinha de lápis de cor
Achou no meu coração um livro de colorir
Fez e desfez origamis com meu coração de papel
E me levou pra morar no seu castelinho da Faber Castell.