sábado, 25 de dezembro de 2010

DIA D

Dia D

Desliguei as lâmpadas do quarto e divaguei sobre dons divinos
Descansei sobre a dádiva do infinito e sonhei com fadas e duendes
Destruí a cela que me aprisionava dentro de outra dimensão
Devagar dei passos rasos dentro dos jardins do coração.
Disse a todos da sensação de estar do lado certo da ocasião
Deus me diga se seria eu merecedor de tal doença
Deveria eu, querer pra sempre a dor alegre da doação?
Dissertei com diplomacia a democratização destas palavras
Desci fundo no dever de agora ser, dois
Diga a mim que o mal deixará pra depois
De agora em diante dividiremos o dom de ser só um
De devolver a liberdade roubada das flores depois do meio-dia
De dormir pensando em acordar do teu lado, Diana
Deus, eu nem sairia da cama.

És como a flor, a diferença é que podes levar teu perfume a todo lugar.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

CLUBE NIILISTA

Clube Niilista

Ando chorando para cenas românticas em filmes de ação
Vou morrer operário, nunca serei patrão
Meu filme favorito ainda é O Poderoso Chefão
Ó meu Deus por favor não.

Um dia eu me mato
Meu disco favorito é o 17 Big Golden Hits Super Quentes Mais Vendidos do Momento
Do Língua de Trapo.

A única vez que venci na vida foi no fliperama
Ainda acho que a melhor coisa da vida é dormir nu na cama
Será que há algo errado comigo?
Só ouço musicas do tempo em que eu ainda nem era nascido.

Tentei até ser comunista quando adolescente
Fui preso muitas vezes jurando ser inocente
Peguei porrada de muito policial
Desisti, eu caí na real.

Juro que tentei ser escritor
E vender livros no exterior
Mais sou frustrado com essas coisas complicadas
E ser poeta não me levará a nada.

Achei que podia ser Chico Buarque
E te convencer a comer açaí com charque
Mas você sempre foi muito egoísta
E me deixava sempre parado na pista.

Queria morrer como Charles Bukowski
Mas descobri que tenho medo de morrer
Não me julgue um desesperado
Só não quero saber o que tem do outro lado.

Peguei minha mulher com o seu novo amante
Mas ele era filho do meu atual patrão
E o convidei para tomar uma cerveja
Rindo de mim ele me disse não.

Resolvi então virar evangélico
Quem sabe assim mudava a situação
Mas acabei tendo que lavar os banheiros
Para poder garantir minha salvação.

Eu sempre fui como Caetano
E sempre achei tudo muito lindo
Mas sempre acabo entrando pelo cano
Desnorteado, sem saber onde estou indo.

Rezava toda noite para o cigarro não acabar as três da manhã
Para o bar não fechar antes de amanhecer
Mas você sempre saia dizendo não me querer mais
Então voltava pra casa e tentava dormir em paz.

Me incentivando eles diziam: Vai dar tudo errado no final
Ainda é tempo meu amigo, desista
Volte agora mesmo para o Clube Niilista
Onde é o Clube Niilista?


segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

TITÃ

Titã

Eu posso ir contra a vontade do teu olhar
No amanhecer de uma guerra, a insônica
Acender a pira funerária e por Roma em chamas
Assim por fim na tenra lenda babilônica.

Devastou cidades com teus códigos mefistofélicos
Tuas meias-luas, meias-palavras, meias-verdades
Metade do teu poder infinito de me por em ruínas
De por em ruínas teu povo e tuas próprias cidades.

Proeminente febril numa tempestade de vestido
Decimais andares de terror e beleza
Vis cantares em exaltação de outros amores
Fétidos, rastejam companheiros da nossa proeza.

Paliativos teus gestos me condenam ao sofrer
Honoráveis gestos que matam e toma para si as atenções
Gritos absurdos me atordoam e me parto em porcelana
O “cale-se” latente em ecos e aliterações.

Consagram-se malditos os condenados discordantes
Cantam as valsas sem sentido pelos poetas
Costura a boca da voz de Deus e do povo
Desgovernada anunciada pelos patéticos profetas.

Nesta parábola falam-me somente do teu eu inacessível
Do espírito dos imperadores tiranos que tens
Passas de outra para outra a transmutação
De estrela morena a ravena maldita que nos isenta de bens.

Levas teu vulto a aqueles que a querem, maledicência
A mortalha por noites será nosso talismã
Amo-te sim porem, sou deveras humano
Sou um nada perante teu inestimável titã.

E assim dos dias se fizeram noites longas e frias por toda terra.