sexta-feira, 30 de julho de 2010

SONHEI


Sonhei

Sonhei com você esta noite
E no sonho você estava vestida de sonhos
E de nuvens
E de brilhos nos cabelos
E vigiava as estrelas
Como a pastorinha vigiava as ovelhas
Cantando pra elas muitas canções
Espalhava sorrisos
Como flores em um campo florido
Tornando tudo mais bonito.

Foi quando eu cheguei
Esquisito
Estranho
Ovelha negra do rebanho
Perdido
Sem rumo
Como a ovelha desgarrada
Apreensivo
Como quem guardava algo
Desconhecido.

Então você me tomou pelas mãos
E sem dizer uma palavra sequer
Me levou até o céu
E era um céu mavioso
Suave
De um horizonte distante
Você apontava e dizia
Que era tudo pra mim
Bastava eu querer
Bastava dizer, sim.

E eu disse sim
Então mergulhamos com roupas na piscina
Entregues a devoção de apenas amar
De apenas beijar
E dedicar um ao outro
Pois só o amar
Compreende o amor
Pois o amor não pode ser medido
Não pode ser entendido
Pois sentir já basta.



sábado, 24 de julho de 2010

TEU VESTIDO

Teu vestido

Minha vontade era te calar
Com um beijo
Intencionalmente irresponsável pelos atos seguintes
E correr as mãos por baixo do teu vestido
Pra você sentir como de súbito um susto
E acelerar a tua respiração
Deixar minhas mãos percorrer o teu caminho
Sem direção
Até te deixar de joelhos
Como uma pecadora desejando a punição
Como a fome desejando o pão
E eu sou o animal desejando teu cio
Eu sou teu assassino
Eu admirador secreto
Que te observa toda a noite
E sabe tudo de ti
Sabe o que fazer e como fazer
Eu quero te comer
Te devorar
Até não restar mais nada de você
Como um cego tateando na escuridão
Minha língua percorre todo teu corpo
E teu suor é o tempero da vida
É o que me faz prosseguir
É o que me faz segurar teus cabelos com força
E não te deixar fugir
Você não tem pra onde correr
Ou se esconder
Não até eu ter dito tudo
Tudo o que eu tinha pra dizer
Até eu confirmar o que dizem de você
Até você ouvir aquelas coisas que você não imaginava ouvir
Vadia
Eu te amo
Eu amo ver teu corpo marcado
E ofegante
Sobre os lençóis
Mas o que será de nós?
Se ainda estamos na primeira cerveja
Talvez você nem esteja bêbada
O suficiente
Pra me deixar fazer o que quero com você
Pra me deixar satisfazer meu desejo
Meu desejo é o beijo
O resto?
O resto o teor alcoólico do nosso sangue vai dizer
Você fica tão bonita de vestido

segunda-feira, 19 de julho de 2010

A BAILARINA

A bailarina

Enquanto ela se embalava num sonho acordada
Movimentando suas ancas no ar ela sorria
Eu espreitava aquela cena de olhos bem fechados
E a cada beijo que a mim ela dedicava
Eu acordava pra fingir que aquilo era sonho.

Quanto eu precisaria correr pra fugir de mim?
Até onde eu devo ir pra poder me encontrar?
Eu apenas posso me encontrar no meu interior
No interior do meu próprio jardim
Colhendo flores e contando no céu as estrelas sem fim.

Foi quando percebi que seu sorriso trazia mais do que eu esperava
Era a criança brincando no jardim de infência de amar
Era a fada dos sonhos, o anjo dourado, a deusa das águas
Todos os seres místicos em um único sorriso
Tudo o que eu preciso em um só lugar.

Qual será o limite para o corpo da bailarina?
A bailarina existe mesmo ou estou a sonhar?
Deveria eu duvidar de meus olhos?
A beleza que tens é o que te fazes especial, não tuas asas
Pois se até as moscas tem asas, todo mundo voa.

A bailarina quando fecha os olhos é porquê ela está concentrada em levitar
Pois não pode perder o momento exato do salto
Mas a bailarina beija de olho aberto
Pra não perder nenhumacena do filme
Pra não perder o fim da novela.

Quando eu morrer eu quero que seja com as luzes acesas
Pois quero ver o rosto do meu assassino
Quando eu me suicidar eu quero pular de olhos abertos
Pois quero poder vislumbrar uma bela paisagem
Quando eu te fizer sorrir eu vou estar te observando
Pra que eu não perca o exato momento do teu sorriso
E quando eu te amar eu quero te olhor nos olhos
Pois não quero perder o momento de ver estes olhos delirando de prazer
Mas quando eu te beijar
Deixe que esteja de olhos fechados
Pois como o corpo da bailarina
Na hora do beijo
As mãos já falam por si só.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

SEXOSTOMÁTICO INTRACEREBRÁLICO

Sexostomático Intracerebrálico


Visceratite lambróxida
Açoitoplasma de bioflagelo
Sexostomático intracerebrálico
Temorismo gozointerno


Desoxibulímico copulatristia
Ácidéstico hipervaginérico
Aminiossomos laringosolutos
Suoristrato de labortestérico.


Testostramato de progesclicina
Ortomusculardetrasclamato
Introfaringisperma escreto
Analiprotêico de suplamato.


Cloridentício mortaciclina
Almaricênico ultragerminia
Androdermia nuclêoretina
Ribointerina activadinia.

NUVENS

Nuvens


para que se ajoelhar
rezar
pedir perdão
se ninguém controla isso
qual é o propósito de resistir?
se é bom
por quê lutar contra algo que você quer?
que você deseja acima de tudo
sem culpa
triste daquele que controla os desejos
pois apenas viverá de fatos
nada de sonhos
nada aproveitará
se já deste a cara a tapa
por quê não dar o outro lado
se somos escravos das nossas vontades
e por quê não dar a mão á palmatória
se é algo que já está determinado
se já foi escrita a história
Deus me deu o dom de duvidar das coisas
e não desisto enquanto não conseguir
enquanto eu não tiver dúvidas suficiente
pra viver em busca das respostas
a vida é curta
então viva
como você sabe viver
tenha uma árvore
escreva um filho
plante um livro
cante
pois quando a música acaba as luzes acendem.

TANGO DOS DOZE TRAGOS

Tango dos doze tragos


Salve ó Deus as moscas de bar
Os clandestinos amantes das doenças venéreas
As santas mães que abençoam o dinheiro
Os inocentes os delinqüentes


Uma mulher qualquer acorda do meu lado
Domingo de manhã um dia ensolarado
Intelectuais metidos a comunistas
Artistas plásticos meia garrafa de vinho
Poetas vagabundos largados pelos cantos
A poesia imunda dos becos escuros
A droga que corre solta nas madrugadas
As praias à noite e a prostituição
As boas conversas na boca das putas
As más companhias os beijos selvagens
A vida noturna na porta dos bares
Vadias vidas
As luzes dos postes
A vida enlouquece.

MENINA

Menina


Eu te vi descendo a rua com aquele sorriso de comercial de margarina
Estava vestida de mulher
Mas uma mulher de outdoor de lingerie
Mas no fundo é uma menina
É a minha menina
Sempre foi e sempre será minha linda menina
Que gosta de estar por cima
Que não deixa ninguém a ver chorar
Que não deixa ninguém saber que ela não é vaidosa
Que na verdade é distraída
Anda com a cabeça nas nuvens
Vem ver a lua
Estampada nos olhos
Dessa menina
Que sai à noite e some
Antes de raiar o dia.

QUESTÕES!

Questões!


para que se ajoelhar
rezar
pedir perdão
se ninguém controla isso
qual é o propósito de resistir?
se é bom
por quê lutar contra algo que você quer?
que você deseja acima de tudo
sem culpa
triste daquele que controla os desejos
pois apenas viverá de fatos
nada de sonhos
nada aproveitará
se já deste a cara a tapa
por quê não dar o outro lado
se somos escravos das nossas vontades
e por quê não dar a mão á palmatória
se é algo que já está determinado
se já foi escrita a história
Deus me deu o dom de duvidar das coisas
e não desisto enquanto não conseguir
enquanto eu não tiver dúvidas suficiente
pra viver em busca das respostas
a vida é curta
então viva
como você sabe viver
tenha uma árvore
escreva um filho
plante um livro
cante
pois quando a música acaba as luzes acendem.

LEOPOLDO

Leopoldo


Minha namorada cocainômana
me procura nas madrugadas
para dizer que me ama
Fico olhando as olheiras dela
(tão escuras quanto a noite lá fora)
onde escondo minha paixão
Quando nos amamos
peço que me bata
me maltrate fundo
pois amo demais meu amor
e as manhãs empalidecem rápido.


Francisco Alvin

domingo, 11 de julho de 2010

ATRÁS DA PORTA

Atrás da Porta


Quando olhaste bem nos olhos meus
E o teu olhar era de adeus
Juro que não acreditei, eu te estranhei
Me debrucei sobre teu corpo e duvidei
E me arrastei e te arranhei
E me agarrei nos teus cabelos
Nos teu peito, teu pijama
Nos teus pés ao pé da cama
Sem carinho, sem coberta
No tapete atrás da porta
Reclamei baixinho
Dei pra maldizer o nosso lar
Pra sujar teu nome, te humilhar
E me vingar a qualquer preço
Te adorando pelo avesso
Pra mostrar que ainda sou tua.


Assista o video de Elis cantando esta música de Chico.




Elis regina - Atrás da Porta



PLASTICINA

Plasticina


E se Jesus tivesse se rebelado?
Se revoltado?
Eu na presença dos anjos
Teria questionado
Como questiono tudo que não me convém
Como me questiono quando a noite vem
Como o amor por exemplo
Como a morte
Como a morte prematura das coisas.


Em que laboratório eles criam as doenças?
E como vendem as vacinas?
Doença pra vender remédio e álcool em gel
Tudo é planejado
É pré-preparado
É automático
É rápido
É leve
Conforto e tecnologia
Comida light
Barriga vazia.


Graças a Deus tudo é de plástico
O mundo é um chiclete
E a vida é um jogo
Um teste de paciência
Eu jogo paciência
Eu meço a paciência dos outros
E procuro um jeito de vomitar os sapos que engoli
Descarrego toda minha raiva num plástico-bolha
E ouço as músicas tristes do Chico até chorar
E choro até cair no sono
Só pra ver até onde eu posso chegar
Só pra ver se eu me automatizo
Me torno mais moderno
E elevo meu espírito ao décimo segundo céu
Ou ao quinto dos infernos.


Se pra você sorrir
Eu me arrastar
Só pra ver você sorrir
Enquanto eu cato as migalhas
Fingindo ser teu
Mas não imagina
Que sou intransponível
Que sou a Muralha da China
Que minha espada é a caneta
E vou montado no meu cavalo baio
Chamado trovão
Preso à cela
No meio da chuva
Na escuridão
Intrépido
Destemido
Pra chegar a tempo de ver a novela.


Falando em caneta
Agora só escrevo com a que você me deu
Pra dar sorte
Pra ver se eu ganho muitos milhões
Com os poemas que eu te escrevi
Pra que eu venda meus livros na Europa
Ou morra logo
Martirizado
Satirizado
Com a cara num outdoor
É duro tanto ter que esperar
E ver você partir
E aquela porta se fechando nas tuas costas
Na minha cara
Minha cara
Ele largou mão de tudo
Pra se dedicar a algum ramo da medicina.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

BEM-VINDA

Bem-vinda


Eu nunca vou mudar
Nunca vou deixar de sentir sua falta
Nem deixar de chorar
Cada vez que você for embora
Mesmo sabendo que você volta depois
Pra sentar na janela
E ficar olhando a chuva lá fora
Só nós dois
Nós dois a sós
Dois a sós
Depois.


Cada vez que você vai
Leva um pedaço de mim
Até não restar mais nada
E deixa uma bagunça a minha casa
Mas quando você volta
Deixa uma bagunça a minha vida
Vida minha
Minha
Bem-vinda a minha vida
Bem vivida.


Mas se você tiver que ir
Que vá
Mas me leve
Me leve com você
Só não me leve a mal
Pegue-e-pague
Pegue-leve
Leve como quem desfila em nuvens
Porque a saudade pesa
Quase nada
Uma tonelada.


Pegue tudo o que você puder levar
E o que for meu
Deixe apenas o necessário
Deixe apenas meus livros
Meus discos
Porque eles ainda me ajudam a lembrar
Eles são a minha ferida
Pois me mostram que eu estava errado
Quando deixei você partir
Da minha vida
Bem vivida
Bandida
Bem-vinda a minha vida.

MUSA

Musa


Deusa da minha tortura
Leve
Me leve pro teu paraíso
Enquanto meu coração bate fora do peito
Fora do ritmo
Intimo da minh’alma
Leva a minha calma
Leve
Se existe
Até que o sol me desperte.


Santa mãe dos meus pecados
Negue
Que o suor de minha testa
É em razão de ti
Ouve meus apelos
Enquanto estou fraco
E o que meu corpo transpira
Ofegante ele respira
E se mistura ao teu.


Musa do meu samba
Lusa
Se depressa
Esquecer de mim
Será este meu fim
E de meu fim eu tenho medo
Pois medo tenho do que desconheço
Leve
Meu barco para o desconhecido.


Demônio da minha carne
Me acaricia
Como se me deitasse
Sobre cacos de vidro
Como se me cobrisse
De arame farpado
Inquieta
Toma conta de meus pensamentos.


Dona da minha sede
Me sacia
Esta fome com a tua
Fantasia
Maçã
Que mordida está
Que poderá e saciar
Com teus lábios
Lábios aqueles imersos na sede de amar.
Musa


Deusa da minha tortura
Leve
Me leve pro teu paraíso
Enquanto meu coração bate fora do peito
Fora do ritmo
Intimo da minh’alma
Leva a minha calma
Leve
Se existe
Até que o sol me desperte.


Santa mãe dos meus pecados
Negue
Que o suor de minha testa
É em razão de ti
Ouve meus apelos
Enquanto estou fraco
E o que meu corpo transpira
Ofegante ele respira
E se mistura ao teu.


Musa do meu samba
Lusa
Se depressa
Esquecer de mim
Será este meu fim
E de meu fim eu tenho medo
Pois medo tenho do que desconheço
Leve
Meu barco para o desconhecido.


Demônio da minha carne
Me acaricia
Como se me deitasse
Sobre cacos de vidro
Como se me cobrisse
De arame farpado
Inquieta
Toma conta de meus pensamentos.


Dona da minha sede
Me sacia
Esta fome com a tua
Fantasia
Maçã
Que mordida está
Que poderá e saciar
Com teus lábios
Lábios aqueles imersos na sede de amar.