quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A FOGUEIRA DAS PAIXÕES PROFANAS



 A Fogueira das Paixões Profanas

Dois pares de olhos verdes
Incandescentes
Devorando a treva dos indecentes da madrugada
A volúpia de dois corpos em chamas
Se desejando até o infinito
Até a combustão total
Dois piromaníacos condenados
À câmara de gás
Assistindo a noite padecer numa explosão
Salientando tudo o que é profano
Propano, metano
Cigarros e diesel
Anjos de asas flamejantes 
Condenados ás cinzas
Carvão sobre tela
A febre bem quista que conduz o suor à ebulição
O fogo transformador das almas impuras
O inferno branco em oxidação térmica
Dois sobreviventes de Hamburgo após as bombas incendiárias
A ciranda das crianças em volta da fogueira da inquisição
Conduzindo os sonhos de Winona Ryder até Salém
Consumindo-se até a antiga Cantiga do Sol.

Construí uma casa no sol
Uma casa construída de sal

Minha cama era um ninho de palha

E acendia num feixe de luz.


E todo dia eu era a fênix

Eu ressurgia da própria cinza

Morria nesse crepúsculo

Para dar à tarde o luto noturno.


Eu tinha os olhos incandescentes

Meu coração uma brasa

Minhas mãos fervilhavam insanas

Para acender o amanhecer.


O meu destino é queimar

É me desfazer em cinzas

É abrir os portões do inferno

É fazer tudo arder com o fogo.


Descalço sobre as faíscas

Eu nunca fazia fumaça

A chama fazia as pedras cantarem

Mas lavava com gasolina.


Como palitos na caixa de fósforos

Como palitos na caixa de fósforos...



sexta-feira, 12 de outubro de 2012

O ALINHAMENTO DOS PLANETAS



O Alinhamento dos Planetas

Ora leve embora suas dores bélicas
Me deixe só
Com meus sambas tristes.

Teu pão e circo sob a lona leve
Leve fogo
Circo das circunstâncias.

Lábios remoendo em remorsos
Tanto faz
Vou por teu nome no cartaz.

Eu quis pra nós dois o que nunca fomos
Que nunca seremos
As flores de Vênus.

Todas as conquistas científicas
Químicas, físicas
Mãos e suor por si só.

Tenha mais respeito com meu coração
Descompassado
Batendo à porta do meu peito, grita.

Mais que palavras eu desejo tua dança
Tua jaula em elipse
Teu deus mandando o apocalipse.

Dissertar sobre política
Pós-apocalíptica
Você não me conhece, mas aceito a crítica.

Eu quero ter entre meus dentes tua apatia
Tua natureza em harmonia
Gritando por todos os poros
Dançando na chuva de meteoros
Olhar nos teus olhos e ver
O alinhamento dos planetas.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

AMOR PLATÔNICO

Amor Platônico

Somos um deus e um inseto se alimentando da própria inexistência
Terroristas-poetas com flores-bombas-atômicas
Pacifistas-armados, mal-amados ou não
Não te desejo respostas, pois só tenho a indagação.

Somos frestas nas paredes da igreja, cupins da reconstrução
Atores vigiados, assistidos pela televisão
Somos os piratas da ordem, múmias da renovação.
O dono-sem-cão, a cena romântica num filme de ação.

Somos bêbados-acrobatas viciados em sexo e LSD
E morreríamos pela nobre causa do intelecto um do outro
Vamos à colheita maravilhosa do sentimento da preguiça
E ficamos nus na cama lustrando os revólveres.

Somos mendigos, com fome e talheres de prata
O pássaro imortal que não pôde nascer
Somos crianças condenadas à maturidade
Separadores dos clássicos e dos neo-sei-lá-o-quê.

As mentes criativas são as mais preguiçosas
As mentes preguiçosas são as mais perigosas
Os frutos proibidos são os mais saborosos
Os amores platônicos são os mais prazerosos.

Para libertar sua mente eu sou capaz de tudo
Pelo seu amor sou capaz de morrer
Sou capaz de morrer para você viver
Sou capaz de matar pra viver você.


AMOR DE DESTRUIÇÃO




Amor de Destruição

Você invadiu minha cabeça
Com furacões a balançar seus cabelos
Como um trator quer colhe flores
Numa doce explosão nuclear.

Teu codinome: Rainha Destruição
Teu meteoro de açúcar causou minha extinção
Tua enchente levou meu barraco
Hoje não tenho onde morar.

Vamos acabar com nossa guerra fria
Esse incômodo que vicia,
Pois quero naufragar meus navios no teu mar
No teu mar de bolinhas de gude
Que eu tentei resistir, mas não pude.

Quero invadir teu cinema
Com uma metralhadora nas mãos
Te seqüestrar para o meu apartamento
E discutir estratégias de guerra.

Eu já formei meu exército
Vou atentar teu continente ao pudor
Com aviões de papel supersônicos
Armas de brinquedo e tanques de isopor.

Para as cidades que foram destruídas
Eu preciso de ti, não nego
Usaremos bastante cola branca
E um mar de pecinhas de LEGO.

E depois com diplomacia
Podemos combinar uma paz
Eu me rendo e faço tudo o que queres
E o que quero também você faz.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

O ANO DO DRAGÃO



O Ano do Dragão

Aquilo que você critica é o que mais você quer ser
Mesmo quando se tem tudo você ainda quer mais
E se desfaz daquilo que não lhe convém
Daquilo que não lhe detém
Daquilo que nunca foi seu.

Todo mundo tem medo de esquecer o passado
E não se conforma de que um dia tudo muda
E fica muda de uma forma absurda
E fica surda
Eu tenho medo de que um dia nada possa mudar.

Ninguém sabe ficar calado quando não tem nada a dizer
Todo mundo quer expressar o seu descontentamento
E usa de um fraco argumento
Me faz perder meu tempo
Tentando se defender.

Guarde sua opinião pra você
O que eu faço ou deixo de fazer
Só diz respeito a mim mesmo.

Tem gente que acha que não pode tomar conta do problema
E diz que sofre, pois sofrer agora está na moda
E diz que estimula a criatividade
E jura de pé junto
Que isso é verdade.

Ora pois, vá procurar viver
Faça o que tiver que fazer
Mas faça tudo a esmo.

Todo mundo sonha com uma vida fácil
E pensa em dormir e sonhar com os seis números da loteria
Todo mundo que um lugar ao sol
Mas estão todos na sombra
Vendo futebol.

Todo mundo quer amar sem sofrer
Todo mundo quer jogar sem perder
Todo mundo quer tudo como quem não quer nada.
Todo mundo quer seus quinze minutos de fama
Mesmo que tenha que deitar na lama

Estar cegos e nos faz perder a lucidez de sonhar