domingo, 16 de dezembro de 2012

AMARGEDOM



Amargedom

Ela é o caderno onde despejo as minhas juras de amor
O amor individual dos seres
O amor que é medido em gestos
O amor que é resto das outras que se foram
Por isso o amor nasceu na Rússia
Por isso os poemas de amor são desconexos
E canções de amor não tem nada a ensinar
Eu queria ter o amor dos jornalistas
Que recortam e colecionam crônicas dos outros
Precisamos todos ir bater na porta do céu e perguntar
Se existe mesmo um anjo a nos guardar
Ou se ele é guarda armado que bate nos protestantes
Que fazem as orações aos berros e os protestos em silêncio
Devemos aprender a aceitar calados como fazem os imbecis
Não sei conviver, não sei conviver ao teu lado
Não sei andar na moda
Acordar cedo e trabalhar é foda
Eu queria viver de luz
Mas quando se vive na escuridão da solidão
A luz nos cega
E nos nega razão aos pensamentos
Eu não raciocino quando me vejo em tua íris
Ou quando você me diz que é feliz
Mesmo sabendo que te fazer feliz não foi o que fiz
O que eu fiz foi te fazer mulher
Uma mulher que sabe o que quer muito bem
Só não me quer
Ou não me quer bem
Ou só me quer longe
Ou apenas quer que eu lhe dê a mão
Pra que ela possa se abrigar da explosão
Do fim do mundo
Ou do fim do mês
Não se sabe
Só quero me deitar ao seu lado
Para que o nosso mundo não acabe.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

VÉSPERAS DE FERIADOS



Vésperas de feriados

Vésperas de feriados
Os bares lotados
De gente vazia
O que eu queria
Era só mais um dia
Na contramão
A solução
Pra solidão
É a cerveja
É certeza
Da tristeza
De dormir na mesa
E acordar no chão

Eu queria não lembrar
E beber só pra esquecer
Que o que eu sinto em cada esquina
Eu só sentia por você
Mas você vai ver
Eu me reerguer
E fingir que as canções que escrevo
Não são pra você.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A FOGUEIRA DAS PAIXÕES PROFANAS



 A Fogueira das Paixões Profanas

Dois pares de olhos verdes
Incandescentes
Devorando a treva dos indecentes da madrugada
A volúpia de dois corpos em chamas
Se desejando até o infinito
Até a combustão total
Dois piromaníacos condenados
À câmara de gás
Assistindo a noite padecer numa explosão
Salientando tudo o que é profano
Propano, metano
Cigarros e diesel
Anjos de asas flamejantes 
Condenados ás cinzas
Carvão sobre tela
A febre bem quista que conduz o suor à ebulição
O fogo transformador das almas impuras
O inferno branco em oxidação térmica
Dois sobreviventes de Hamburgo após as bombas incendiárias
A ciranda das crianças em volta da fogueira da inquisição
Conduzindo os sonhos de Winona Ryder até Salém
Consumindo-se até a antiga Cantiga do Sol.

Construí uma casa no sol
Uma casa construída de sal

Minha cama era um ninho de palha

E acendia num feixe de luz.


E todo dia eu era a fênix

Eu ressurgia da própria cinza

Morria nesse crepúsculo

Para dar à tarde o luto noturno.


Eu tinha os olhos incandescentes

Meu coração uma brasa

Minhas mãos fervilhavam insanas

Para acender o amanhecer.


O meu destino é queimar

É me desfazer em cinzas

É abrir os portões do inferno

É fazer tudo arder com o fogo.


Descalço sobre as faíscas

Eu nunca fazia fumaça

A chama fazia as pedras cantarem

Mas lavava com gasolina.


Como palitos na caixa de fósforos

Como palitos na caixa de fósforos...



sexta-feira, 12 de outubro de 2012

O ALINHAMENTO DOS PLANETAS



O Alinhamento dos Planetas

Ora leve embora suas dores bélicas
Me deixe só
Com meus sambas tristes.

Teu pão e circo sob a lona leve
Leve fogo
Circo das circunstâncias.

Lábios remoendo em remorsos
Tanto faz
Vou por teu nome no cartaz.

Eu quis pra nós dois o que nunca fomos
Que nunca seremos
As flores de Vênus.

Todas as conquistas científicas
Químicas, físicas
Mãos e suor por si só.

Tenha mais respeito com meu coração
Descompassado
Batendo à porta do meu peito, grita.

Mais que palavras eu desejo tua dança
Tua jaula em elipse
Teu deus mandando o apocalipse.

Dissertar sobre política
Pós-apocalíptica
Você não me conhece, mas aceito a crítica.

Eu quero ter entre meus dentes tua apatia
Tua natureza em harmonia
Gritando por todos os poros
Dançando na chuva de meteoros
Olhar nos teus olhos e ver
O alinhamento dos planetas.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

AMOR PLATÔNICO

Amor Platônico

Somos um deus e um inseto se alimentando da própria inexistência
Terroristas-poetas com flores-bombas-atômicas
Pacifistas-armados, mal-amados ou não
Não te desejo respostas, pois só tenho a indagação.

Somos frestas nas paredes da igreja, cupins da reconstrução
Atores vigiados, assistidos pela televisão
Somos os piratas da ordem, múmias da renovação.
O dono-sem-cão, a cena romântica num filme de ação.

Somos bêbados-acrobatas viciados em sexo e LSD
E morreríamos pela nobre causa do intelecto um do outro
Vamos à colheita maravilhosa do sentimento da preguiça
E ficamos nus na cama lustrando os revólveres.

Somos mendigos, com fome e talheres de prata
O pássaro imortal que não pôde nascer
Somos crianças condenadas à maturidade
Separadores dos clássicos e dos neo-sei-lá-o-quê.

As mentes criativas são as mais preguiçosas
As mentes preguiçosas são as mais perigosas
Os frutos proibidos são os mais saborosos
Os amores platônicos são os mais prazerosos.

Para libertar sua mente eu sou capaz de tudo
Pelo seu amor sou capaz de morrer
Sou capaz de morrer para você viver
Sou capaz de matar pra viver você.