quinta-feira, 23 de junho de 2011

CADELA

Cadela


Eu vou deixar a minha língua escorregar lentamente para dentro da boca dela
Depois puxar os cabelos com força e arrepiar os pelos da nuca dela
Deixar acontecer a explosão da bomba atômica dela
E assim satisfazer incontrolável essa vontade louca dela.


Com erotismo vou esculpir a Vênus de vidro de dentro da estética dela
Misturar devagar a minha física junto à química dela
Me deixar levar pela dança cósmica frenética dela
E arrancar de dentro a púrpura deusa esquizofrênica dela.


Vou permitir me perder na vida elétrica dela
E me perverter pela mente criativa e diabólica dela
Vou lamber os pelos pubianos e invadir a região pélvica dela
Em sonhos de cerâmica, arranhando a porcelana na vertigem mais caótica dela.


Quero me viciar sem volta na risada histérica dela
Uma aguda faca na coluna com a precisão cirúrgica dela
Ela quebra a louça, rasga a seda na cena mais poética dela
E depois descansa à cama mesmo com toda a previsão apocalíptica dela.


Ela é fantástica
Ela é democrática
Faca antitetânica
Contra a cinemática.


Ela é dinâmica
Ela é excêntrica
Ela é egocêntrica
Ela é esotérica.


Ela é fotográfica
Ela é hipnótica
É enigmática
Ela é cibernética


Ela é mágica
Ela é lógica
Maquiavélica
Melodramática.


Gótica
Exótica
Emblemática
Científica
Matemática
Alcoólica
Alegórica
Paranóica
Telepática
Megalomaníaca
Única.

domingo, 19 de junho de 2011

INFERNO

Inferno


Eu invadi aquela boca como um mendigo sacia a fome num banquete
E se fez um silêncio mórbido como se a morte espreitasse aquela encenação profana
E engoli a língua, as palavras até restar somente um silêncio de tortura
E nos comemos na imundície naquela cena vazia de amor metafísico.


As quatros mãos assassinas operavam com o intuito de despir aqueles corpos prostituídos
Dois corpos ofegantes possuídos pelo xamã dos desejos demoníacos
Ambiciosos, vadios, sedentos do sangue e do suor alheio
E essas mãos percorreram outros corpos na vontade insólita de se tocar.


No próximo ato, do assassinato estão os dois corpos desnudos artisticamente
E como em arte sacra, eles se devoram e perpetuam o teatro maligno
E como duas máquinas, dois anjos caídos trocavam torturas
Como o percurso silenciosos do disparo em direção à vitrine.


Havia a chave, mas se preferiu arrombar a porta com violência
E acenavam em tom de despedida com choro e dor a inexistente da inocência
Assim era lançado o desafio às leis científicas quando dois corpos procuram ocupar o mesmo lugar
E da água pro vinho, da noite pro dia se fez terrorismo e poesia.


E diversas formas, meios, jeitos, posições de se consumar o inegável fato
E as almas no inferno escarneciam presas aos momentos e a cada olhar
Dois animais numa luta intensa e desigual, pois ambos os corpos não ocupam o mesmo plano
Dois bêbados dançando o tango, auto-consumindo o desejo da própria sede.


O quintal invadido pelo vento, as roupas no varal e o arrepio na espinha
O cheiro de urina, fezes, esperma e perfume francês em perfeita harmonia
Um canto lírico mas de teor tribal, brindava sorrisos e xingamentos canibais
Gritos semelhantes aos de Linda Lovelace cinematograficamente púrpuros e suicidas.


Aqui se cospe no prato onde deve comer, coma boca cheia, de joelhos, piedade
Ele puxa os cabelos dela, elas arranha as coxas dele numa prova de amor
A prova de que o amor existe até numa reação química
E aquela multidão de pessoas passa as pressas com o intuito de cruzar o mar vermelho, mas são engolidos até o limite do horror.


Depois se beijaram, depois se deitaram, acenderam cigarros e fizeram silêncio
E lá ficaram parados, embalsamados, no éter da eternidade
Estáticos como duas estátuas nuas sob a chuva por toda a tarde
Até que o tempo os oxidasse, com as rugas e as folhas e os frutos podres das árvores

terça-feira, 7 de junho de 2011

FILIPE CATTO

Filipe Catto

Crime Passional



Tem samba no meu quarto a noite inteira
Especialmente quando tu te vais
Tem dança quando diz que não me chegar
Que é para distrair o que me faz sofrer assim demais
Na madrugada tem perfume e vela
Pra atrair alguém que vem e traz
Alguma coisa que em ti me falta
Uma atenção singela pra deixar a noite em paz
Se for pra me ferir com teu silêncio
Respondo teu vazio com a paixão
Pra outros corpos que me satisfazem
Já que essa rua te acalanta muito mais que o meu colchão
Enquanto te convence para os outros
Enquanto te bajulam pelo bar
Não vê, nem por milagre, que tua casa
Pega fogo, espalha.
Luxuriosa.
Regozija...
Até que um belo dia me culpaste
Disseste que assim não pode mais
Eu ri e disse: "vai, pode cantar vitória agora
Eu fiz mesmo e faria é denovo se tivesse..."

Mas...
Três tiros irromperam a noite surda
Pr´um corpo de calor que se extinguiu
Me deu três beijos úmidos de lágrima
Selou meus olhos como um arrepio

segunda-feira, 6 de junho de 2011

FILIPE CATTO

Este jovem cantor de voz maravilhosa que lembra Ney Matogrosso anda me entorpecendo com seu Ep lançado recentemente, abaixo "Saga" que dedico a uma certa moça que ao escutar saberá que certamente é pra ela...



Filipe Catto

Saga

Andei depressa para não rever meus passos
Por uma noite tão fulgás que eu nem senti
Tão lancinante, que ao olhar pra trás agora
Só me restam devaneios do que um dia eu vivi

Se eu soubesse que o amor é coisa aguda
Que tão brutal percorre início, meio e fim
Destrincha a alma, corta fundo na espinha
Inebria a garganta, fere a quem quiser ferir

Enquanto andava, maldizendo a poesia
Eu contei a história minha pr´uma noite que rompeu
Virou do avesso, e ao chegar a luz do dia
Tropecei em mais um verso sobre o que o tempo esqueceu

E nessa Saga venho com pedras e brasa
Venho com força, mas sem nunca me esquecer
Que era fácil se perder por entre sonhos
E deixar o coração sangrando até enlouquecer

E era de gozo, uma mentira, uma bobagem
Senti meu peito, atingido, se inflamar
E fui gostando do sabor daquela coisa
Viciando em cada verso que o amor veio trovar

Mas, de repente, uma farpa meio intrusa
Veio cegar minha emoção de suspirar
Se eu soubesse que o amor é coisa assim
Não pegava, não bebia, não deixava embebedar

E agora andando, encharcado de estrelas
Eu cantei a noite inteira pro meu peito sossegar
Me fiz tão forte quanto o escuro do infinito
E tão frágil quanto o brilho da manhã que eu vi chegar

E nessa Saga venho com pedras e brasa
Venho sorrindo, mas sem nunca me esquecer
Que era fácil se perder por entre sonhos
E deixar o coração sangrando até enlouquecer.

Download

http://www.4shared.com/file/jwtL-Ni8/Filipe_Catto_-_Saga__wwwimusib.htm

quinta-feira, 2 de junho de 2011

FELIPE CATO

Felipe Cato

Após tanto caminhar por cem vales somente com a sombra da morte a me espreitar
Não estive nem perto de se quer pensar, de se quer sonhar em te encontrar
Eu e meus pés nem sequer estivemos perto da tua sombra
Então me deitei sob a sombra da dúvida para descansar.

Estive a te procurar para que você me ajude
A extirpar de dentro de mim essa vontade inexplicável de chorar
Para arrancar de dentro essa falta de explicação
Para arrancar com teu punhal essa dor no coração.

É algo que não sei explicar exatamente
É uma fera que me arranha por dentro lentamente
Um monstro mitológico que me devora
E mesmo que eu tente não consigo por pra fora.

Há um sentimento indescritível dentro de mim
Um sentimento de perda ou uma falta sem fim
Uma mistura de culpa com alegria sem medo
Ócio, tédio, uma serpente-marinha, uma lenda, um segredo.

Algo que não é meu, mas que me pertence
Algo bonito, louco, surreal, algo Josette Lassance
Uma fúria que se mistura com uma paz angelical
Luxúria, amor sexual, desejo carnal.

Apesar de tanto não sei ao exato o que sinto
Sei que sinto e por isso não minto
Sei que este recinto precisa de você
Preciso entender que não irei enlouquecer.

Preciso que carinhosamente me enfie o dedo goela abaixo
Para que eu possa exorcizar isso tudo de mim
Para que eu possa cuspir isso de volta no prato
E feliz depois poder cantar como Elis, Ney ou um dos meus Felipe Cato.