domingo, 11 de julho de 2010

PLASTICINA

Plasticina


E se Jesus tivesse se rebelado?
Se revoltado?
Eu na presença dos anjos
Teria questionado
Como questiono tudo que não me convém
Como me questiono quando a noite vem
Como o amor por exemplo
Como a morte
Como a morte prematura das coisas.


Em que laboratório eles criam as doenças?
E como vendem as vacinas?
Doença pra vender remédio e álcool em gel
Tudo é planejado
É pré-preparado
É automático
É rápido
É leve
Conforto e tecnologia
Comida light
Barriga vazia.


Graças a Deus tudo é de plástico
O mundo é um chiclete
E a vida é um jogo
Um teste de paciência
Eu jogo paciência
Eu meço a paciência dos outros
E procuro um jeito de vomitar os sapos que engoli
Descarrego toda minha raiva num plástico-bolha
E ouço as músicas tristes do Chico até chorar
E choro até cair no sono
Só pra ver até onde eu posso chegar
Só pra ver se eu me automatizo
Me torno mais moderno
E elevo meu espírito ao décimo segundo céu
Ou ao quinto dos infernos.


Se pra você sorrir
Eu me arrastar
Só pra ver você sorrir
Enquanto eu cato as migalhas
Fingindo ser teu
Mas não imagina
Que sou intransponível
Que sou a Muralha da China
Que minha espada é a caneta
E vou montado no meu cavalo baio
Chamado trovão
Preso à cela
No meio da chuva
Na escuridão
Intrépido
Destemido
Pra chegar a tempo de ver a novela.


Falando em caneta
Agora só escrevo com a que você me deu
Pra dar sorte
Pra ver se eu ganho muitos milhões
Com os poemas que eu te escrevi
Pra que eu venda meus livros na Europa
Ou morra logo
Martirizado
Satirizado
Com a cara num outdoor
É duro tanto ter que esperar
E ver você partir
E aquela porta se fechando nas tuas costas
Na minha cara
Minha cara
Ele largou mão de tudo
Pra se dedicar a algum ramo da medicina.

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