terça-feira, 24 de agosto de 2010

EXODUS

Exodus


Traga as armas bélicas pra dentro da cabeça
E não esqueça
De por o cadeado no portão
De prender o cachorro na corrente
De lavar o seu espírito em gordura quente
Pois os lobos nunca dormem
Eles fazem viagens dentro da luz
Dentro da sanidade
E mordem num horror macio como quem morde um poste de concreto
Pois o futuro é incerto
Rapidamente eu vou esquecer como esqueci aquele tiro que me deixou paraplégico
O futuro é trágico
A juventude é mágica
Mas passa como o dia da caça
Eles me prometeram terra
E tive terra na cara a sete palmos do chão
Eu não quero mais só terra e pão
Eu quero água
Eu quero caminhar sobre as águas
Sem uniforme
Eu quero o disforme
E não o padrão
Nem o patrão nuclear
Eu quero roubar
Matar
E destruir
Em nome do teu amor
Do teu intelecto
Eu quero viver a minha vida apontando minhas armas para o infinito
Abraçado contigo admirando nada
E pintar um quadro com os pincéis do holocausto
Eu daqui você Dali
A paisagem morta do esquecimento
Os relâmpagos do Sinai
As provas do crime que cometemos no CSI
Na pré-concepção da moralidade encarnada
Na escolha da própria indecisão
Os venenos de Deus ou os remédios do Diabo?
Eis a questão
A cultura ou o pão?
Os afagos das pás-mecânicas
Para idealizar os desejos das nossas bocas
E de nossas mãos
Em busca do tempero que dá luz a vida
Mesmo que seja vulgar
Então vamos nos despir os prazeres mundanos
E abraçar a nudez dos nossos desejos homéricos
Como a mais incrível das batalhas
Behemoth versus Leviatã
Eu no divã
Onde ambos morrerão segundo Jó
Mas só ao ordenado de Deus será dada a glória da derrota
O pó
O pirlimpimpim da criação
Mas eu não sou Jó e tenho pressa
Nunca tive nada então nunca perdi nada
Tive apenas a promessa
E a direção
Então
Largue as malas
E me dê a mão
Para juntos flutuarmos no meu balão

2 comentários:

  1. "A cultura ou o pão?" Os dois meu caro!
    E que interessante essa passagem do seu texto: "Eles me prometeram terra
    E tive terra na cara a sete palmos do chão
    Eu não quero mais só terra e pão
    Eu quero água" Isso dá uma sacodida na gente por dentro...também fiquei a concordar com você, como perder algo que nunca tivemos? Eis um ponto chave da existência humana achar que se perdeu algo que nunca existiu ou se teve...
    Ah... e essa poesia tá com uma pitada de "ateísta"...rsrsrs...Elementar nos seus escritos meu caro Rafael!!

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  2. simplesmente incrivel esse texto!!!
    parabéns mesmo!!!!

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