domingo, 18 de abril de 2010

O ATEU E O DIVINO

O ateu e o divino

Eu salivava pr’aquele corpo
Eu queria lamber morder ou algo parecido
Eu lambia com os olhos
Eu a queria em minhas mãos.

Aquilo era desumano
Era divino surreal
E eu enlouquecia por saber
Que eu era um simples mortal.

O que o homem não pode entender
Ele destrói
E quando eu toquei o corpo divino
Eu achava que eu era o herói.

Mas no fundo eu queria acabar com aquilo
Não aceitei ilusões diante de meus olhos
Se aquele corpo não podia ser meu
Não seria de mais ninguém.

Então me debrucei sobre ela
Como um esfomeado
Arranquei dela a beleza à força
Com minhas próprias mãos.

E fiz poemas
Pintei quadros maravilhosos
Esculpi
Exorcizei a beleza e transformei em arte.

Até não haver mais beleza
Até restar somente poemas de tristeza
Até existir somente o cadáver
Até saciar minha sede.

Então saciei minha fome
E devorei como um bicho
Aquele corpo vazio
Como um cão no cio.

Como um mendigo num banquete
E era o banquete nu
Até restar somente a lembrança
Uma doce lembrança de infância.

Então celebrei
Festejei
Cantei
Brindei
Dancei
Bebi vinho como um deus
Dancei o balé dos ateus.

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