quinta-feira, 10 de junho de 2010

VULTO BRANCO

Vulto Branco

Eu noturno no meu ritual intacto e pagão
Você sorrindo meu monstro digno de adoração
É a prova viva de que na natureza tudo se move
Tudo corre como o esperado na contramão
Somos os demônios que vigiam as estrelas
E quando elas não desejam brilhar, chove
Quando vestido eu tive vergonha de ter estado nu na tua presença
Então duvidar é a única certeza que tenho de que você irá fazer
Duvidei da minha crença
Da tua sentença
Antes de qualquer mitologia
Antes mesmo da Babilônia
Eu fechava os olhos mas não dormia
Deitou comigo um vulto branco no quarto
E tive uma longa noite de insônia.

Como se comportar?
Como agir como alguém normal?
Como tornar prazeroso algo que nos foi imposto?
A estranha harmonia entre o bem e o mal
O amor tem um estranho gosto
É uma prisão de algemas douradas
Tolo daquele que acredita em liberdade
Somos as lâmpadas presas aos postes e letreiros
Temos o intuito de iluminar
Neônio, xenônio, eletricidade, intensidade
Um sonho pra quem dorme no balcão do bar.

Estou na presença de um fantasma
Vestido com um lençol branco de densidade intransponível
É a visão de revelação de algo extraordinário
Que nos mostra um meio mais interessante de se viver a existência
É só pintar um quadro e lembrar o local de uma experiência sexual inesquecível
Entre nós não há mais religião
Apenas ciência
Onde tudo é intencional
Não existe mais o acaso
Na natureza nada se procria por acidente
É tudo pré-determinado
É tudo fato
Comprovado
É tudo real.

Eu sou a lenda da minha própria existência
Somos Eros e Ares
Seres antropológicos
A nossa história como a da humanidade nos condena
A ser humanos
Falhos
Em guerra
Pólvora e esperma
Tudo além da compreensão
Somos fantasmas que arrepiam os pêlos
Fecho os olhos pra não vê-los
Mas eles me acariciam os cabelos
Enquanto deito sabendo que não vou dormir
Não na escuridão
Mas sempre na cama da solidão.


"se eu for beijar você aqui, chamariam isso de um ato de terrorismo - então vamos levar nossos revólveres para a cama e acordar a cidade à meia-noite como dois bandidos bêbados celebrando a mensagem do sabor do caos com um tiroteio"

Hakim Bey

Um comentário:

  1. "Como se comportar?
    Como agir como alguém normal?
    Como tornar prazeroso algo que nos foi imposto?"
    Concordo em parte, pois nem tudo que é imposto rompe com o prazer...

    "Somos as lâmpadas presas aos postes e letreiros
    Temos o intuito de iluminar
    Neônio, xenônio, eletricidade, intensidade" Essa analogia ficou de primeira categoria! Gostei!

    Dessa vez não consegui compreender a temática central de "vulto branco",se é que de fato existe uma temática central...fiquei confusa com a profusão de vastas idéias...

    Te pergunto: no final os vultos são fantasmas incutidos em nossa memória que nós tornam presos á ela e que de vez em quando subitamente aparecem? ....?...?

    ResponderExcluir