sexta-feira, 8 de maio de 2009

ANOS-LUZ

Anos-Luz

Acendo um cigarro
O mundo parece enorme e vazio
A vida parece enormemente mesquinha
Sem tua presença o quarto fica frio
Tua falta
Enlouquece.

Outro cigarro
O tempo testa a paciência
Os dias não querem passar
O dia não quer amanhecer
Tudo conspira, tudo chateia, nada convém.
Tua presença
Resgata minh’alma do além.

Um café acompanha outro cigarro
A cabeça entra em transe
Um cronômetro invisível marca
O tempo certo de enlouquecer
Na tua falta
Enlouqueço, esqueço o que sou.

Outro cigarro
Direciono o dedo as teclas
O telefone para os desesperados
Tua voz soa
Como a lembrança de um livro bom
Como se minha vida dependesse
De um cabo de fibra ótica
Enlouqueço.

Mais um cigarro
A fumaça penso ser sinais
Pra te dizer onde estou
E que não estou em paz
Talvez eu ponha fogo na casa
Talvez eu escorregue e caia no banheiro
E enlouqueça.

Outro café, outro cigarro.
Eu te amo,
Não sei viver sem você.
Poderia eu me tornar mais clichê?
Poderia eu estar louco e delirando?
Haveria vida além do número do telefone?
Enlouqueço.

Um cigarro pra pensar
Como o mundo mudou e como vai mudar
Deus salve a tecnologia
Que ao mesmo tempo em que aproxima, distancia.
Enlouquece.

Acendo um cigarro e resolvo voltar
Pois tenho medo do tempo
Sinto que minh’alma ficou na rodoviária
E que ficou um pedaço de mim
Em cada abraço que dei
Enlouqueço.

O vento fuma meu cigarro
O carro devora o asfalto
Centímetro por centímetro
A estrada generosa retribui
Massageando as rodas
Enlouquece.

Cigarro e água
O mundo some com a tempestade
Pontes, lama, chuva.
Parece que a estrada acaba depois da curva
Enlouqueço.

Chego e apago o cigarro
Teu abraço corrente e cadeados
Me perco no canto dos teus lábios
Achando que quero morrer
Eu quero enlouquecer!
E enlouqueço.

Me satisfaz estar perto de ti
Num piscar de olhos
Teu beijo me ressuscita
E descubro que ainda nem parti
Que ainda estou perto de ti
Enlouqueço.



2 comentários:

  1. a tristeza eh tão linda e eh tão angustiante ler.
    mesmo as palavras tentam roubar umas o lugar das outras..
    mas pra quê a simetria perfeita se há tanta verdade.
    perspícuo.

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  2. A alma atormentada do "poeta" é SEMPRE o principal motivo de seu bem escrever.

    Enquanto reina a tormenta, delírios pós-esckizophrenicos e tão concretos quanto o futuro insistem em fazer de ti profeta da loucura, apóstolo da nicotina, escravo de uma presença que nunca supre tuas reais necessidades...

    Acompanhei algumas linhas do processo de feitura destes escritos. Adorei tua descoberta final. Mas angustio-me com a veracidade desse teu personagem...

    Boa sorte. E que dure anos-luz! :p

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